18
de setembro de 2014 | N° 17926
L.F.
VERISSIMO
Separatismos
Não
sei se os escoceses votarão por sair de baixo das saias da rainha Elizabeth,
hoje, ou não, mas o fato de o ímpeto separatista ter chegado a este ponto (as
últimas pesquisas davam um empate técnico entre o “sim” e o “não”) num país do
Reino Unido, aquela aconchegante matriz do “Commonwealth”, que os britânicos
inventaram para fingir que ainda têm um império, mostra como nem as presumíveis
zonas de conforto do mundo estão livres dos contrassensos da História.
A
secessão escocesa seria uma bonita vitória de ideais abstratos mas respeitáveis
como independência e identidade nacionais, mas seria, ou será, um contrassenso.
Isto se você concordar que o senso da História deveria ser para a integração
cada vez maior de nacionalidades em vez de um retorno ao tribalismo. E todos os
ímpetos separatistas, por mais nobres e justos que sejam, são movidos por uma
saudade da tribo. Ou, no caso da Escócia, do clã.
Não
há analogia possível entre a secessão escocesa e outros movimentos separatistas
no mundo – mesmo porque não há analogia possível entre a relação da Inglaterra
com o resto do Reino Unido e a relação de qualquer outro governo do mundo com
suas províncias – mas todos têm em comum esse caráter regressivo, essa
nostalgia tribal.
Você
pode simpatizar com a rebeldia de uma Catalunha ou de um País Basco, ligados ao
governo central em Madri apenas por frágeis formalidades, ou com o País de
Gales, que talvez seja o próximo pedaço da Grã-Bretanha a pedir seu boné. Mas
cada reivindicação de autonomia de um desses países autodefinidos por uma
cultura e uma língua próprias é um passo na direção errada. Acho eu.
Mas
é difícil resistir aos apelos do separatismo. Uma vez, alguém me mostrou num
mapa o que, na sua opinião, era o país perfeito. Começava na Toscana, incluía o
Piemonte, pegava um naco da Cote D’Azur e toda a Provence. Era um país em que
não faltaria nada, nem em paisagens, nem em gastronomia, nem em qualidade de
vida (e que vinhos!), e que só precisaria eliminar uma fronteira nacional e
criar outra para existir.
Tem
gente que defende a sério uma secessão gaúcha, mas volta e meia surgem
especulações menos sérias sobre como seria um país desejável do Sul. Ele talvez
incluísse o Paraná, mas há controvérsias. Santa Catarina não poderia ficar de fora,
se por mais não fosse, pelas suas praias. E anexaríamos o Uruguai, certamente.
Tudo puro delírio, claro. Se bem que... Não, não. Puro delírio.
Há
quem diga que já houve uma secessão no Brasil. São Paulo separou-se do resto e
há anos é a sua própria União independente. Não sei.