16
de setembro de 2014 | N° 17924
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Para onde vai o amor
Quando
deixo de amar, não fico aliviado, eu fico triste. Porque é se despedir de uma
grande parte da própria vida, é se desapegar de um sentimento que julgava único.
É triste
deixar de amar. Profundamente triste. É sacrificar a personalidade, é nunca
mais usar um jeito de reagir e de falar, nunca mais usar um jeito de beijar e
de abraçar, nunca mais usar um jeito de transar e ser feliz.
Passo
a pensar: onde foi parar todo aquele amor? Onde é que ele se escondeu? Será que
desapareceu ou apenas está dormindo?
Será
que terminou mesmo ou é fingimento para suportar a falta? Será que minto para
mim para não sofrer tanto?
Será
que o amor é um segredo disfarçado de fim? Será que a minha solidão agora é soberba?
Será que meu contentamento é uma cilada? Será que me embriaguei de palavras e
esqueci o caminho de volta?
Onde
estão aquelas declarações apaixonadas? Em que parte distante de mim, já que não
sobem mais aos olhos?
Para
onde foram a algazarra da convivência, os passeios, as viagens, as mãos dadas,
os risos, a cumplicidade das festas, as brincadeiras, o sono de conchinha, as
conversas até tarde?
Para
onde foram a ansiedade, o ciúme, a saudade, o desespero de não ver mais, as
implicâncias ruidosas, as concordâncias silenciosas?
Para
onde vai o amor após sumirem as fotos, os quadros, as mensagens de texto, os
bilhetes de flores?
Quando
não há mais dor para sinalizar onde se mantinha o amor. Quando não há mais
desespero para apontar onde se guardava o amor. Quando não restam lápide,
campa, cicatriz, rua, aliança para ostentar sua lembrança.
Em
que parada de Porto Alegre desembarca a comoção perdida? Qual a estação em que
o amor acena e evapora? Que planeta, que dimensão, que oceano?
Ou
ele se transforma numa mania nova, num modo de suspirar, de virar o rosto, de
mexer as orelhas?
Ou
ele se converte em cinismo religioso, em maldade com os palhaços, em ironia com
noivos, em raiva de qualquer save the date dos amigos?
Para
onde vai o amor depois do amor? Me fale, por favor. As lágrimas, quando secam,
permanecem eternamente na pele? Não sei. Mas meu rosto está cada vez mais
salgado.