28
de maio de 2012 | N° 17083
L.
F. VERISSIMO
Um exemplo mais ou
menos
A
vitória do Chelsea sobre o Bayern naquele jogo fantástico que decidiu a Copa
dos Campeões trouxe um alento para quem ainda acredita na União Europeia. Cada
campeonato sensacional da Uefa reforça a ideia de que é possível existir uma
comunidade que funcione. O futebol dá o exemplo – não de rivalidade exacerbada entre
nações, mas do sucesso comercial de um empreendimento comum, fora uma ou outra
guerra de torcida.
É
verdade que o Chelsea não é um exemplo cem por cento aproveitável de triunfo
europeu. É um clube inglês que pertence a um milionário russo e cuja estrela
principal vem da Costa do Marfim. Mas quem sabe a solução para a Europa não
deva vir de fora e o que falte não seja um patrocinador com muito dinheiro e
uma política de imigração que facilite a vinda de muitos Drogbas?
A
salvação, quem diria, pode vir da Rússia e de uma política de imigração sem
restrições, oposta à proposta atualmente pelos conservadores de toda a Europa.
Um investidor americano já é o dono de outro tradicional clube inglês, o
Liverpool. A tendência pode crescer e nada impede que algum milionário compre
não um clube grego mas a Grécia.
A
Copa da Uefa pode sugerir outras maneiras da Europa resolver sua crise. A
grande discussão, hoje, sobre o futuro do continente, é entre austeridade e
crescimento. Por que não transformar esse confronto em futebol?
Times
identificados com a austeridade – como uma seleção alemã – contra times
pró-crescimento, num torneio bem organizado, com o vencedor final decidindo a
política a ser seguida por todos. Como atrativo adicional de se ver o Messi e o
Drogba no mesmo time.
Mesmo
que não aproveitem minhas ideias perfeitamente razoáveis, o futebol dos
campeões europeus permanece como um parâmetro para os políticos em busca de uma
saída para a crise. Mas pode, claro, acontecer o contrário: em vez do futebol
mostrar a saída para a crise, a crise alcançar também o futebol. E o espetáculo
da final deste ano em Munique ser lembrado como a apoteose que precede o
declínio.
Mas,
bem ou mal, foi uma apoteose.