26 de janeiro de 2014 |
N° 17685
O CÓDIGO DAVID | DAVID
COIMBRA
O americano BÁRBARO
Vi um cara botando catchup no
feijão, outro dia. O feijão dele não era como o nosso feijão, o feijão de
verdade, cremoso, saboroso, que se come com arroz. Era um prato só com os
grãos, seco e impessoal, grande e vermelho. De qualquer forma, o americano, um
tipo de uns dois metros de altura e rosto muito vermelho, pois esse americano
colocou catchup por cima do feijão e comeu sem cerimônia. Fiquei chocado.
Catchup no feijão. Francamente.
Os americanos cobrem tudo com
catchup. Entendo, porque a comida deles é estranha. Urge dar uma disfarçada. Mas
colocar catchup no feijão?!? Tudo tem seus limites.
Eu e Peggy
Quando cheguei, tive de dormir em
Miami. As tempestades de neve causaram o cancelamento de três mil voos, e do
meu também. Então, lá estava eu puxando a minha mala pelo aeroporto de Miami.
Mas quem diz que havia quarto de hotel para passar a noite? Se os voos são
cancelados por causa de questões climáticas, as empresas aéreas não te dão
nada, nem hotel, nem sanduíche de salamito, nada. Estava abandonado na noite
selvagem da América do Norte.
Bem. Fui até o hotel que fica
dentro do aeroporto. As poltronas da recepção estavam todas ocupadas por uns
negões grandes que dormiam encostados à bagagem. Imaginei que fossem cubanos.
Perguntei se havia vaga e o atendente riu de mim:
– De jeito nenhum, mai bróder.
Sold-out!
Perguntei onde podia conseguir
outro hotel e ele:
– Por aí...
Não me deu a menor bola, aquele
atendente de hotel.
Peguei um táxi e fui para um
motel daqueles de filme, manja? Aquela placa de neón pendurada. Os quartos
distribuídos horizontalmente, pegados um no outro. Me sentia um fugitivo. Um
ladrão de banco. Fiz questão de abrir a cortininha e espreitar a rua, para ver
se os tiras não estavam me cercando.
Depois, fui a um bar ali perto e
a garçonete se chamava Peggy Sue. Não acreditei. Uma garçonete Peggy Sue.
Sempre quis ser atendido por uma garçonete chamada Peggy Sue. Pedi um drinque e
por pouco não dei um tapa na bunda dela. Os americanos não fazem sempre isso?
Cheguei a erguer a mão para, na América, fazer como os americanos, fazer como
faria Jack Nicholson. Sim, o velho Jack faria isso! Mas recuei. Vá que eles não
entendam minhas boas intenções de agir como um deles, vá que não entendam que
um tapa naquela bunda seria uma homenagem ao Grande Irmão do Norte...
Deixei uma boa gorjeta para Peggy
Sue.
A barganha
Vi na TV um programa que me
deixou admirado. É sobre um sujeito que compra carros usados. O ponto alto do
show é quando ele regateia com o dono do carro. O dono pede 15 mil dólares, ele
desdenha, faz muxoxo e oferece seis mil. Acabam fechando por oito, e ele
comemora. Quer dizer: um programa sobre barganha. Não é à toa que os americanos
conquistaram o mundo pelo comércio.
Viagra
A propaganda do Viagra é muito
poética. Uma grande e potente caminhonete está rodando a caminho de casa. Mas a
estrada está embarrada e cheia de neve. A caminhonete atola. Só que logo o
socorro chega: a caminhonete é atrelada a dois possantes cavalos e eles a puxam
até o conforto do lar. Sutil. Os americanos sabem ser sutis, quando querem.
Frio siberiano
A previsão é de que uma onda de
frio rolará do Norte para cá e que, na segunda-feira, a temperatura caia para
20 graus abaixo de zero. Agora está só uns 10 graus abaixo de zero. Quando leio
na zerohora.com que em Porto Alegre está fazendo 40 graus, penso:
– Ah, os trópicos, os trópicos...
Câmeras
Noite dessas, vi um acidente num
cruzamento de Boston. Um carro deslizou na neve e acertou o outro na lateral.
Os motoristas ainda não tinham descido para se xingar, e uma viatura da polícia
apareceu, cheia de luzes piscantes. Não levou um minuto, por Deus. De onde saiu
aquele carro de polícia? Do esgoto? Estava escondido atrás de alguma árvore?
Câmeras.
Eles têm câmeras em toda parte,
por aqui.