quarta-feira, 13 de setembro de 2017



13 DE SETEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA


O fim do homem mais rico do mundo

Joesley chorou quando lhe abriram a porta da cela em que está encerrado. Geddel continua chorando no fundo da cadeia. Lula e Temer ainda estão livres, mas o longo braço da lei já lhes bateu no ombro. Homens ricos e poderosos que se achavam intocáveis. Achavam que tinham sorte.

Existe sorte? Vou contar uma história antiga, mas bastante ilustrativa a respeito: a história de Creso, que, a seu tempo, foi o homem mais rico e poderoso do mundo. Uma mistura de Joesley e Lula antes da Lava-Jato.

Creso era rei da Lídia, que ficava na atual Turquia. Segundo Heródoto, teria sido ele o inventor de algo que você tem de sobra, opulento leitor: o dinheiro.

Tudo ia bem com o rei, até que ele recebeu a visita do grego Sólon, que não era rico, mas era inteligente. Consideravam-no um dos sete sábios da Grécia Antiga, o que não é pouco, porque os gregos antigos eram bem sabidos.

Creso, ciente da fama do visitante, chamou-o ao palácio. Queria se exibir. Mostrou-lhe as suas riquezas, que eram, de fato, impressionantes. Terminado o tour, perguntou:

- Agora me diga: quem é o homem mais afortunado que você já conheceu?

Sólon pensou um pouco e respondeu: - Telo, de Atenas.

O rei levou um susto. Por todas as escravas trácias de pele leitosa e bustos fartos, quem era esse Telo, de Atenas?

Sólon respondeu que Telo havia sido um homem bom e rico, que gerou filhos belos e nobres e que morreu dignamente, com a espada na mão.

O rei ficou irritado, mas se conteve. Insistiu:

- E quem foi o segundo homem mais afortunado que você conheceu?

- Ah! - disse Sólon. - Foram Cleóbis e Bíton, dois irmãos argivos.

O rei rosnou com fúria real:

- E quem são esses?

Sólon contou que Cleóbis e Bíton eram atletas de grande força física. Um dia, a mãe deles estava atrasada para um compromisso e, num tempo sem Uber, a parelha de bois que a levaria se atrasou. Os irmãos não tiveram dúvida: puseram-se na canga e puxaram a carroça com a mãe em cima. Ela chegou na hora aprazada e todo o povo argivo cumprimentou-a pela pontualidade e pelos filhos dedicados que tinha. Cleóbis e Bíton também ficaram felizes, mas, mais do que isso, ficaram cansados. Deitaram-se no templo para tirar uma soneca e não acordaram mais.

A maioria dos pais modernos preferiria chegar atrasada e manter os filhos vivos, mas não era assim que se pensava na Argos daquele tempo. Os argivos, a mãe inclusive, festejaram a façanha dos rapazes e levantaram estátuas em honra deles.

A essa altura, Creso já estava fulo. Como é que podia Sólon achar homens comuns mais felizes do que ele?

- E eu??? - gritou. - Tendo visto minha riqueza, você não acha que sou afortunado?

Sólon ponderou que Creso continuava vivo e que os deuses às vezes nos pregam peças desagradáveis quando menos esperamos. - Sua história tem de terminar para eu saber se você foi afortunado - explicou. Creso dispensou o sábio com um dar de ombros, pensando que ele não era tão sábio assim, afinal.

Não muito depois disso, Creso cometeu a temeridade de arriscar sua sorte e atacar a Pérsia, do rei Ciro. Foi derrotado, capturado e amarrado a um poste. Sob as vistas de Ciro, os persas começaram a amontoar lenha e gravetos em volta de Creso, preparando-se para queimá-lo vivo.

Percebendo que sua sorte acabara, o triste rei lembrou-se de Sólon e começou a gemer:

- Sólon... Sólon... Sólon... Ouvindo-o, Ciro perguntou quem era aquele deus desconhecido que Creso invocava na hora da morte. Creso contou sobre Sólon e concluiu:

- Agora sei o que ele quis dizer. Agora aprendi a lição.

Ciro, que era esperto, viu que aquilo ensinava algo a ele. Percebeu que, no futuro, poderia se tornar um Creso. Então, mandou que os soldados o libertassem e o nomeou seu conselheiro, para que nunca esquecesse que a felicidade e a riqueza são fugazes, mas a sabedoria é para sempre.

Aprendam, portanto, Temer, Lula, Joesley, Geddel e tantos mais. Porque ainda não chegamos ao fim.

DAVID COIMBRA