sábado, 13 de outubro de 2018


13 outubro DE 2018
ARTIGO

AMAMOS O ÓDIO?

A grande surpresa de quem, na boa-fé e buscando combater a corrupção, votou em Jair Bolsonaro no primeiro turno foi descobrir, agora, que o guru e instrutor econômico do candidato é investigado pelo Ministério Público e a Polícia Federal, suspeito de fraudes multimilionárias em fundos de pensão de sete empresas estatais, entre elas a Petrobras.

O investigado, Paulo Guedes, é a figura mais próxima do candidato, ministro da Fazenda e chefão maior da economia caso triunfe no segundo turno. Tal é a intimidade entre ambos que, no único debate a que compareceu, Bolsonaro confessou nada saber de economia e nem necessitar "pois Paulo Guedes sabe tudo".

O Ministério Público tem indícios de que, na gestão Dilma-Temer, o guru de Bolsonaro se associou a executivos ligados ao PT e ao PMDB em sete fundos de pensão e obteve R$ 1 bilhão para sua empresa (a BR- Educacional Gestora de Ativos) aplicar "em projetos educacionais". Há indícios de gestão fraudulenta e emissão de títulos sem lastro por parte de Guedes.

O eleitor terá percebido que foi fraudado? Ou o ódio que lastreou o primeiro turno se fez impermeável?

Amor e ódio são opostos entre si. Ao amar, não se odeia. Ao odiar, não se ama. Mas, de boa-fé e sem perceber a lama das águas, a maré do primeiro turno da eleição presidencial mostrou que amamos o ódio.

Para combater a bandidagem, optamos por quem quer resolver tudo "na bala", numa "guerra civil" individual que nos levaria a ver inimigos na própria sombra. A maioria votou em quem considera "bobagem" preservar a natureza e diz, até, que - se eleito - vai retirar o Brasil do Acordo Climático de Paris, que busca evitar a morte do planeta. Ao votar, não vimos que optamos por quem, além de contrariar a ciência, se envergonha da obra da Criação.

E que a aberração surgia "em nome de Deus" ou de supostos "valores cristãos". Cristo nunca predicou ódio ou violência. Convencia pelo diálogo e pela tolerância do debate, sem impor.

A medíocre campanha em que os candidatos se fantasiam do que não são (como no Carnaval) propicia o horror. Aquela mocinha marcada na pele, à faca, com a suástica nazista por três rapagões que discordavam do adesivo que ela exibia ("Ele não", alusivo a Bolsonaro) foi vítima do possível futuro de ódio que já começou.

O que dizer do delegado policial que viu na suástica apenas o símbolo de "amor do budismo", de milênios atrás, e não o ódio nazista recente e atuante?

Amamos o ódio e odiamos o amor?
FLÁVIO TAVARES