segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024


19 DE FEVEREIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS

ABSURDO RETÓRICO

Na sua desmedida pretensão de aparecer aos olhos do mundo como herói da pacificação planetária e perante a esquerda mais radical como paladino das causas libertárias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta a comprometer a imagem histórica de neutralidade do Brasil ao criticar a estratégia de defesa israelense no conflito contra o grupo terrorista Hamas. 

Desta vez, foi além de todos os limites no seu absurdo retórico: criou um incidente diplomático com Israel ao comparar as ações bélicas daquele país na Faixa de Gaza ao Holocausto que vitimou 6 milhões de judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, portadores de deficiência e opositores políticos.

As manifestações despropositadas feitas durante a recente viagem do mandatário brasileiro ao Egito e à Etiópia já começam a gerar consequências incômodas para o país. Ontem mesmo, o governo de Israel anunciou a convocação do embaixador brasileiro para uma reunião de reprimenda que pode, inclusive, culminar em ruptura de relações diplomáticas. O próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que as declarações de Lula da Silva ultrapassam uma linha vermelha na histórica convivência harmoniosa entre as duas democracias.

No seu terceiro mandato, quando já deveria ter incorporado a prudência nos contatos com outros governantes em suas viagens internacionais, Lula vem se notabilizando ainda mais por declarações políticas inábeis. Não é a primeira vez que suas manifestações simplórias e contaminadas por convicções ideológicas ultrapassadas desconsideram a política cautelosa do Itamaraty na abordagem de questões geopolíticas complexas como o atual conflito no Oriente Médio. 

Quando cai na tentação do falatório, o presidente invariavelmente escorrega e escancara contradições. Sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, igualou agressor e agredido. Agora, no Egito, voltou a criticar Israel na guerra contra os terroristas do Hamas, condenando os israelenses por não considerarem resoluções da Organizações das Nações Unidas (ONU) que pedem um cessar-fogo.

A incoerência fica clara quando se lembra que a ONU fez condenações semelhantes à Rússia sobre a invasão da Ucrânia. Foram posições, entretanto, que não encontraram a defesa veemente de Lula. O Itamaraty e o presidente, aliás, guardam intrigante silêncio sobre a decisão da semana passada do governo Nicolás Maduro de expulsar da Venezuela membros do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.

Na Etiópia, no domingo, o brasileiro exagerou no disparate ao mencionar o Holocausto, suscitando compreensíveis e pertinentes reações, como a da Confederação Israelita do Brasil (Conib), que considerou a comparação uma ofensa às vítimas do genocídio perpetrado durante a Segunda Guerra Mundial.

Lula se diz defensor da democracia, mas relativiza ou se cala quando arbitrariedades são cometidas por governos e autocratas da mesma linha ideológica ou que considera conveniente não contrariar por uma mentalidade embolorada da época da Guerra Fria. A hesitação em condenar violências flagrantes na Rússia, na Venezuela e na Nicarágua está aí para comprovar. Melhor seria que o presidente deixasse a diplomacia para os diplomatas e se dedicasse mais em 2024 aos problemas internos do país, que não são poucos.

OPINIÃO DA RBS

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