sexta-feira, 1 de agosto de 2014


01 de agosto de 2014 | N° 17877
EDITORIAL ZH

OS EFEITOS DO CALOTE

O dramático desfecho da excessiva politização de um tema que deveria ser tratado pela Argentina de forma técnica precisa motivar o Brasil a ampliar mais as possibilidades de acordos bilaterais.

Pela segunda vez desde 2001, a Argentina volta a inquietar o mundo financeiro em consequência ao mesmo tempo de reiterados equívocos de sua política econômica interna e de um insólito impasse pela intransigência de credores, que amplia os temores entre outros países endividados.

Diferentemente de 13 anos atrás, desta vez, o Brasil, seu principal parceiro comercial, não corre maiores riscos de contágio financeiro e cambial. Ainda assim, o Brasil precisa torcer por uma solução rápida para a moratória técnica, que pode surgir em nova reunião marcada para hoje, em Nova York. Os formuladores da política econômica brasileira devem se preocupar também em delinear alternativas e buscar uma forma de compensação para as consequências dessa crise.

No primeiro semestre, antes mesmo da situação de calote ter se tornado incontornável, o comércio entre Brasil e Argentina já havia registrado uma queda de 20% em relação a igual período do ano passado. O aspecto complicador é que a pauta brasileira de exportações inclui automóveis, máquinas e equipamentos em geral. Há uma série de razões que tornam remota qualquer possibilidade de uma retomada imediata nas aquisições desses itens.

Uma delas é que, por incompetência gerencial, o principal parceiro brasileiro no Mercosul conseguiu a façanha de reduzir suas reservas cambiais de US$ 52 bilhões para apenas US$ 27 bilhões de 2011 até agora. O impasse com a decisão da Justiça norte-americana que assegurou o pagamento integral dos títulos no caso dos chamados “fundos abutres” e o rebaixamento da nota do país por agências de avaliação de risco apenas agravaram a situação.

O dramático desfecho da excessiva politização de um tema que deveria ser tratado pela Argentina de forma técnica deve motivar o Brasil a ampliar mais as possibilidades de acordos bilaterais. Sem prejuízo das conquistas registradas até agora, o Brasil precisa buscar formas de ficar menos preso a interesses pautados mais em afinidades ideológicas do que pelas perspectivas de avanços comerciais continuados.


É por objeções de países como a Argentina que o Mercosul, até hoje, não avançou nas negociações com a União Europeia, por exemplo. O Brasil precisa se abrir mais, investindo em parcerias que ampliem suas perspectivas de negociar abertamente com economias preocupadas em se manter sempre em busca de mais competitividade.