10
de agosto de 2014 | N° 17886
L. F. VERISSIMO
Lloyd George
Foi
o escritor inglês H.G.Wells quem chamou a I Guerra Mundial de “a guerra para
acabar com todas as guerras”, e foi outro inglês, David Lloyd George, quem
disse que ela era a guerra para acabar com todas as guerras, e que a próxima
também seria. Desde então, a Humanidade vive entre a esperança de Wells, para
quem o mundo certamente aprenderia a jamais repetir a barbaridade da
primeirona, e o cinismo fatalista de Lloyd George, que no final tinha razão.
A
estupidez humana mostrou ser mais forte do que qualquer apelo racional, e a II
Grande Guerra foi uma continuação da I, só com armas mais mortais, culminando
com as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, a mais violenta agressão de um
país a outro na História. E não é preciso ir mais longe do que o noticiário de
hoje para ver que uma das características da estupidez humana é a reincidência.
Outra
do Lloyd George. Como primeiro ministro britânico no fim da I Guerra, reuniu-se
com o premier francês Georges Clemenceau e o presidente americano Woodrow
Wilson, em Versalhes, para discutirem o que fazer com a derrotada Alemanha.
Clemenceau e Wilson queriam uma punição mais forte, Lloyd George defendia um
castigo mais brando. Na volta de Versalhes, lhe perguntaram como ele tinha se
saído na reunião, e ele respondeu: “Bem, levando-se em conta que eu estava
entre Jesus Cristo e Napoleão”.
Mas
a ironia e o discernimento abandonaram Lloyd George quando ele foi a Berlim
conversar com Hitler, que começava a dar os primeiros sinais de que o espaço
vital que reclamava para a nova Alemanha, o “lebensraum”, iria incomodar os
vizinhos. E Lloyd George voltou cheio de admiração pelo espírito que sentiu no
povo alemão, inspirado pelo Führer.
Pior:
botou suas boas impressões no papel, e elas voltaram para atucaná-lo muitas
vezes no resto da sua vida. E ironia mesmo foi o fato de Hitler e o nazismo
serem, indiretamente, crias do Tratado de Versalhes e do ressentimento alemão
pelas reparações exigidas pelos vitoriosos na I Guerra, com a assinatura
contrariada de Lloyd George.
AGRADECIMENTO
Somos
uma espécie irracional e sem salvação, mas há o que nos redime. A coisa mais
bonita feita no Brasil, depois de algumas igrejas barrocas e da Patricia
Pillar, é a música Senhorinha, do Guinga e do Paulo César Pinheiro, cantada
pela Mônica Salmaso. E agora foi lançado um disco só com músicas da dupla na
voz límpida como água de vertente da cantora. Nós não merecemos, mas
agradecemos de coração.