sexta-feira, 12 de setembro de 2014

REINALDO AZEVEDO

Dilma e Marina estão certas!

Marina diz que, com Dilma, o Brasil caminha para a paralisia; petista diz que Marina será usina de crises

Na troca de farpas entre Dilma Rousseff e Marina Silva, quem está certa? As duas e ninguém. Cada uma aponta a principal fragilidade da outra para vender a sua imprestável bugiganga institucional. A petista não imagina outra forma de governar que não loteando a administração entre os partidos da base aliada. Aprendeu com Lula que é assim que se faz. O chefão do PT, por sua vez, diz ter aprendido tal prática com os inimigos que vieram antes dele. É uma caricatura de Napoleão, o porco de "A Revolução dos Bichos", de George Orwell.

Marina, com a suposta pureza de um "Bola de Neve", o porco revolucionário do bem, percebeu que há nas ruas, "no que se refere" (como diria Dilma...) ao petismo, uma sensação de enfaro. Então decidiu sair por aí vituperando contra instituições da "velha política" e chama a algumas barbaridades de "nova política". A última ideia espantosa é um tal "Comitê de Busca de Homens de Bem", onde seriam pescados os evangelistas da boa-nova.

Se ela chegar ao "Comitê de Salvação Pública", começarei a cuidar do meu pescoço.

Marina diz que o país não pode continuar nas mãos de Dilma e do que esta representa porque caminharia para a paralisia. E avalio que ela está certa. A presidente tem à sua disposição a maior burocracia do Ocidente, criada para não funcionar. Cada uma das forças políticas que a apoiam quer um lugar de poder para conter o adversário-aliado.

Dilma, por seu turno, sustenta que o modelo proposto por Marina pode ser uma usina de crises. E, convenham, não é preciso ser adivinho para chegar a essa conclusão. Em dois dias, os "vocalizadores" de Marina produziram algumas peças que poderiam entrar para a história nativa da infâmia política.

A investidores do Bank of America e a lojistas dos Jardins, os "sonháticos" venderam a ideia de que a vitória de sua candidata acarretará, por si, uma profunda reforma partidária. À turma das finanças, Beto Albuquerque lembrou que o baixo clero do Congresso tem especial atração por quem vence. É? Aos comerciantes, Walter Feldman previu até o fim do PSDB. Para onde iriam os políticos e em que daria a diáspora? Suponho que migrariam para o grupo vencedor. O que Marina poderia lhes dar em troca? Um trocadilho novo? Uma medalha de "Honra ao Mérito"?

Por cima dos partidos, apelando apenas ao "Comitê de Busca dos Homens de Bem", os sonháticos pretendem fazer as reformas política, tributária, fiscal e administrativa, além de garantir educação em tempo integral, um SUS que funcione, tudo conforme pede uma tal "Democracia 2.0". Nesse paraíso que marcaria o fim da política, não entendi quem desempenha o papel da cobra.

Como Marina promete a independência do Banco Central, não precisará nem mesmo se responsabilizar por eventuais, como é mesmo?, "medidas amargas". Bastará atribuí-las a uma tecnocracia sem rosto. Se bem que, dado o pensamento econômico pregresso da candidata, prefiro que ela terceirize a área se vencer, como fez Lula em seu primeiro mandato. Poucos se deram conta de que essa "independência" é menos uma convicção do que uma facilidade política, que torna mais leves os ombros dos governantes.

Escolha, eleitor, a natureza da nova crise. Só não vale alegar ignorância.