REINALDO
AZEVEDO
Dilma e Marina estão certas!
Marina
diz que, com Dilma, o Brasil caminha para a paralisia; petista diz que Marina
será usina de crises
Na
troca de farpas entre Dilma Rousseff e Marina Silva, quem está certa? As duas e
ninguém. Cada uma aponta a principal fragilidade da outra para vender a sua
imprestável bugiganga institucional. A petista não imagina outra forma de
governar que não loteando a administração entre os partidos da base aliada. Aprendeu
com Lula que é assim que se faz. O chefão do PT, por sua vez, diz ter aprendido
tal prática com os inimigos que vieram antes dele. É uma caricatura de Napoleão,
o porco de "A Revolução dos Bichos", de George Orwell.
Marina,
com a suposta pureza de um "Bola de Neve", o porco revolucionário do
bem, percebeu que há nas ruas, "no que se refere" (como diria Dilma...)
ao petismo, uma sensação de enfaro. Então decidiu sair por aí vituperando
contra instituições da "velha política" e chama a algumas
barbaridades de "nova política". A última ideia espantosa é um tal "Comitê
de Busca de Homens de Bem", onde seriam pescados os evangelistas da boa-nova.
Se
ela chegar ao "Comitê de Salvação Pública", começarei a cuidar do meu
pescoço.
Marina
diz que o país não pode continuar nas mãos de Dilma e do que esta representa
porque caminharia para a paralisia. E avalio que ela está certa. A presidente
tem à sua disposição a maior burocracia do Ocidente, criada para não funcionar.
Cada uma das forças políticas que a apoiam quer um lugar de poder para conter o
adversário-aliado.
Dilma,
por seu turno, sustenta que o modelo proposto por Marina pode ser uma usina de
crises. E, convenham, não é preciso ser adivinho para chegar a essa conclusão. Em
dois dias, os "vocalizadores" de Marina produziram algumas peças que
poderiam entrar para a história nativa da infâmia política.
A
investidores do Bank of America e a lojistas dos Jardins, os "sonháticos"
venderam a ideia de que a vitória de sua candidata acarretará, por si, uma
profunda reforma partidária. À turma das finanças, Beto Albuquerque lembrou que
o baixo clero do Congresso tem especial atração por quem vence. É? Aos
comerciantes, Walter Feldman previu até o fim do PSDB. Para onde iriam os políticos
e em que daria a diáspora? Suponho que migrariam para o grupo vencedor. O que
Marina poderia lhes dar em troca? Um trocadilho novo? Uma medalha de "Honra
ao Mérito"?
Por
cima dos partidos, apelando apenas ao "Comitê de Busca dos Homens de Bem",
os sonháticos pretendem fazer as reformas política, tributária, fiscal e
administrativa, além de garantir educação em tempo integral, um SUS que
funcione, tudo conforme pede uma tal "Democracia 2.0". Nesse paraíso
que marcaria o fim da política, não entendi quem desempenha o papel da cobra.
Como
Marina promete a independência do Banco Central, não precisará nem mesmo se
responsabilizar por eventuais, como é mesmo?, "medidas amargas". Bastará
atribuí-las a uma tecnocracia sem rosto. Se bem que, dado o pensamento econômico
pregresso da candidata, prefiro que ela terceirize a área se vencer, como fez
Lula em seu primeiro mandato. Poucos se deram conta de que essa "independência"
é menos uma convicção do que uma facilidade política, que torna mais leves os
ombros dos governantes.
Escolha,
eleitor, a natureza da nova crise. Só não vale alegar ignorância.