CAROLIN OVERHOFF FERREIRA - COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
'Entre
Nebulosas e Girassóis' tem cenário restritivo e cenas rasas sobre a
felicidade
"Entre Nebulosas e Girassóis", drama de Rafael
Neumayr, se propõe a interrogar a diferença entre um romance imaginado e sua
negação no mundo real. Porém a montagem (direção, figurino e trilha de Cynthia
Paulino) esbarra no cenário (Alessandro Aued) como primeiro obstáculo.
Um palco quadrado, dividido em dois triângulos por uma
cavidade com água, tem flores coloridas de um lado e uma poltrona com flores
mortas do outro. Em vez de estabelecer uma tensão entre realidade e fantasia, a
cenografia concebe, assim, um mundo uniforme que lembra o de um conto de fadas.
Não falta apenas a realidade como referência. A concentração
espacial restringe demais a atuação.
Quase sempre sentado, um homem velho (Luiz Arthur) conta sua
história: quando rapaz, ia a um café para idolatrar uma jovem que não tinha
coragem de abordar.
Do outro lado, a garota (Julia Marques) contracena com o
alter ego imaginário (Rafael Neumayr) em um namoro idealizado.
Embora o jovem dependa da fantasia de seu criador, a
interpretação inexpressiva de Neumayr não se explica por ele ser fictício. Marques
trabalha com mais nuances, sobretudo quando seu personagem se revolta contra o
papel de criatura e revela seus sentimentos recíprocos.
A atualização do mito de Pigmalião, ao demonstrar crescente
falta de credibilidade na oposição entre imaginação e realidade, resulta pouco
dramática.
Com cenas rasas sobre a felicidade sonhada, não traça um
contraste crível que possa colapsar depois. A montagem da peça ficou aquém das
intenções artísticas.
ENTRE NEBULOSAS E GIRASSÓIS
QUANDO hoje, às 20h (último dia)
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245; tel. 3234-3000)
QUANTO de R$ 2,50 a R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular