sexta-feira, 26 de julho de 2013

Jaime Cimenti

Alguém via a ficção brasileira por aí?

De uns anos para cá, e já são muitos, pelo que me lembro, as listas de livros mais vendidos da revista Veja e de outras publicações praticamente não trazem obras de ficção e poesia de autores brasileiros. Mesmo Paulo Coelho não tem aparecido muito nas listas.

Em algumas semanas deste ano, com certa surpresa, Toda poesia, de Paulo Leminski, figurou como best-seller na lista da Veja. Nesta semana já não está lá. Livros de crônicas, História e biografias envolvendo autores e temas nacionais aparecem com mais frequência nas listas. O poeta, professor e crítico Décio Pignatari certa vez disse que, no Brasil, a crônica tinha matado o romance.

A frase faz pensar. Muitos de nossos grandes romancistas faleceram, e os vivos não estão nas listas. Novelas e coletâneas de contos de brasileiros, tanto quanto se sabe, não têm causado o impacto desejado no público e nas vendas. Literatura infantil e infantojuvenil e romances históricos ou espíritas seguem com grandes tiragens. A questão da ficção e da poesia fica no ar. Poesia nunca vendeu muito. Livros de contos também não. Mas onde estão os romancistas e os romances brasileiros?

É certo que as editoras muitas vezes preferem apostar em títulos que já vêm do exterior com sucesso, adaptações para cinema, teatro e tal, já que vivemos num mundo globalizado. É certo que os leitores têm liberdade para escolher o que pretendem levar para casa, mas penso que é preciso examinar melhor a questão, que envolve aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos.

Por que será que a maioria de nossos leitores está preferindo ficções sobre personagens, cenários e histórias de outros países, alguns mesmo do Oriente? Por que a história da menina da Índia chama mais a atenção do que a história da jovem do Rio de Janeiro?

Nada contra as histórias e o talento dos estrangeiros, mas torço para que a gente volte a ter romances, personagens e cenários nossos. Fico desejando que os leitores brasileiros leiam mais sobre nossos habitantes e nosso país. Fico desejando que nossos ficcionistas, editores e livreiros encontrem os caminhos para que nossos romances voltem às listas de mais vendidos.

A globalização está aí, é inevitável, mas não podemos deixar nosso samba morrer. Não podemos deixar nossas identidades culturais de lado. Não devemos deixar de pintar e contar a história de nossa aldeia. Só assim seremos universais, como disse Tolstoi.

Jaime Cimenti