sábado, 18 de outubro de 2014


18 de outubro de 2014 | N° 17956
NÍLSON SOUZA

UM VERDADEIRO DAVID

Como é possível isso? – costumamos exclamar cada vez que deparamos com alguma coisa fora da normalidade. Foi o que pensei ao ver o vídeo de David, um jovem mineiro que nasceu com a síndrome de Hanhart, doença rara que se caracteriza pela ausência parcial ou total de braços, pernas ou dedos.

Pois o rapaz de Belo Horizonte tem apenas o que ele mesmo define como “toquinho”, um pedaço do braço esquerdo que mal ultrapassa o ombro. Nada de braço direito, nem de pernas. Ainda assim, ele chegou aos 25 anos, trabalha, estuda numa universidade, faz palestras, joga bola e pratica natação.

Seria difícil de acreditar numa história dessas se a gente não tivesse a oportunidade de ver as imagens. A mesma tecnologia que nos permite o acesso a essa lição de vida também estimula pessoas com deficiência a manter a atividade. David conta que no seu primeiro dia de trabalho ficou diante da tela do computador em stand by, esperando que ele teclasse o triplo Control+Alt+Del para iniciar a operação. Ele não teve dúvidas: toquinho no Alt, língua no Control e nariz na tecla Delete. Seu chefe observou a cena e comentou:

– Se você consegue fazer Control+ Alt+Del, consegue fazer tudo.

Não é uma vida sem dificuldades. Comove ouvi-lo relatar que só se deu conta da deficiência física quando já estava na quarta série e um colega de aula perguntou por que ele era assim. Naquele dia, conta, chegou em casa questionando a mãe, que respondeu serenamente:

– Vamos conversar sobre isso.

E conversou, com a sabedoria e a ternura que só as mães têm. Ao chegar à adolescência, ele passou a pesquisar sobre a doença, recebeu orientação médica e optou por enfrentar os obstáculos com as armas que possuía. Quem o vê correndo com pernas quase inexistentes numa esteira rolante ou nadando numa piscina com o impulso do único pedaço de braço não pode ficar indiferente, nem deixar de analisar a própria existência.


A história desse David brasileiro, que repete a lenda do mitológico herói hebreu e derrota diariamente tantos Golias, me faz lembrar a célebre lição do cientista do Parque dos Dinossauros: a vida sempre encontra um meio.