segunda-feira, 16 de abril de 2018


16 DE ABRIL DE 2018
DAVID COIMBRA

Apresse-se devagar



Uma frase pouco conhecida guiou a vida de um dos homens de maior inteligência prática da história da humanidade. Falando em latim, ele repetia sempre para si mesmo: "Festina lente". "Apresse-se devagar".

O homem a que me refiro era o imperador Augusto, o primeiro césar de Roma. Foi desta forma, agindo com rapidez e calma ao mesmo tempo, que ele conseguiu entrar para a História sem jamais deixar o trono.

Não é algo fácil de se fazer. É preciso grande autocontrole. Augusto estava sempre em busca deste poder sobre si mesmo - por saber que assim exerceria poder sobre os outros. Por isso, ele se cercava de homens sábios, aos quais ouvia com atenção e humildade. Um deles era o filósofo ateniense Atenodoro, que, depois de passar um tempo na corte romana, decidiu voltar para a Grécia. Ao se despedir do imperador, Atenodoro deu-lhe o seu conselho mais útil:

- Sempre que se encolerizar, nada diga ou faça antes de repetir em pensamento as 24 letras do alfabeto.

Augusto gostou tanto da recomendação, que pediu a Atenodoro que permanecesse mais um ano em Roma. Depois daquele dia, o imperador vivia repetindo: "Nenhum risco acompanha a recompensa que o silêncio traz".

Essa é uma sabedoria antiga de 2 mil anos, e sempre válida. Mas como praticá-la, diante da necessidade atual de se expressar com pressa?

Eu, agora, estou usando o método de Augusto. Com uma vantagem: recito o alfabeto com k, w e y. Isto é: 26 letras, não 24. Em geral, é o suficiente para dar tempo ao silêncio. Uma conquista preciosa nesta época de paixões em chamas.

Há muitas pessoas de quem gosto e que respeito, algumas que até considero inteligentes e que, na política, são dominadas por um sentimento religioso, pela crença crua. Não há como discutir com elas. Matéria de fé não se discute, porque a fé é incontornável. Então, mesmo que você ouça asneiras, o melhor é calar. Até porque não fará nenhuma diferença argumentar.

Trago aqui comigo, inclusive, a sólida convicção de que não sou apenas eu que cheguei a essa conclusão. Há, em todas as sociedades, aquilo que os americanos chamam de silent majority, a maioria silenciosa. Essas pessoas não expressam suas ideias facilmente, não se expõem nas redes sociais, nem brigam por candidatos. São elas o pesadelo das pesquisas de opinião. Elas sempre existiram, mas, hoje, nesta época de ânimos inflamados, existem em número ainda maior - a maioria está aumentando.

Sem precisar da filosofia dos gregos, sem precisar da sabedoria dos imperadores, a maioria sabe o valor do silêncio. Essa maioria quer que o Brasil mude, essa maioria já está mudando o Brasil. E vai se manifestar na hora certa - nas eleições. Ainda neste ano, o grito dos silenciosos vai assombrar o Brasil.

DAVID COIMBRA