sábado, 24 de julho de 2021


24 DE JULHO DE 2021
EM FAMÍLIA

O ANO EM QUE FIQUEI COM O VOVÔ

A PANDEMIA IMPÔS MUDANÇAS NO CONVÍVIO DE ALGUNS PAIS COM OS FILHOS. ESTES VIRAM CRESCER SEU PAPEL DE NETO

Sentado em uma cadeira de praia fora do quadro da câmera do notebook, Cláudio Vitor Lewandowski, 75 anos, acompanhava, dia após dia, as aulas remotas do neto Pedro Henrique Lewandowski de Souza, nove. A rotina que se estabeleceu ao longo do último ano foi rompida no final de abril, quando o menino retornou às atividades escolares presenciais. A possibilidade da convivência em tempo integral fortaleceu ainda mais os laços entre neto e avô, que, agora, são inseparáveis. Boas histórias dessa vivência próxima não faltam, e vão desde as dificuldades do vovô para acessar o sistema de aulas remotas do neto até o neto raspando a cabeça do vovô com uma máquina.

A despeito de todos os traços negativos da pandemia, há de se admitir que ela aproximou - mesmo que à força - uma parcela significativa de famílias. Se por um lado muitas se afastaram dos idosos por receio de infectá-los, por outro uma parcela lançou mão de estratégias que uniram os parentes, como foi o caso dos Lewandowski: temendo ser o vetor da doença, a mãe de Pedro Henrique, a servidora pública Cláudia Zenker Lewandowski, 42 anos, decidiu sair de casa e deixar o pai, Cláudio, a mãe, Irani Zenker Lewandowski, 67, e o filho juntos no apartamento. Coube à filha fazer todas as tarefas do lado de fora da porta, como ir ao supermercado, farmácia e, inclusive, colocar o lixo do trio para a rua.

Confinados na residência, os avós participaram de todo o processo de adaptação às aulas remotas. Cláudia, em outro apartamento, dava suporte por telefone, auxiliando o pai a ingressar no sistema da escola.

- Eu configurava tudo por telefone. Ele entrava, não dava. Eu dizia: "Vô, não é ponto gov, é ponto org o site, presta atenção!" - conta Cláudia. - No início, foi um pouco difícil entender, se conectar. Não tínhamos experiência. Aos poucos, fomos compreendendo e ficou mais fácil - completa o vô.

Com tudo ajustado, o trio foi se adaptando à nova rotina em casa, que contava com as aulas online do menino diariamente acompanhadas pelo avô do conforto da sua cadeirinha de praia. Sem interferir, postava-se ao lado do neto, ouvindo todos os detalhes. Para o avô amante dos estudos, o novo formato de ensino foi uma oportunidade única de participar de pertinho dos aprendizados do neto.

- Ficava quatro horas com ele e não me causava cansaço de tanto que eu gosto! - orgulha-se Claudio que, de tanto acompanhar as atividades, já é capaz de reconhecer as características pessoais de cada colega do neto:

- Um brinca mais, outro menos. Um é mais interessado, às vezes um entrava de pijama - descreve o avô. Para Cláudia, a presença do vô no dia a dia foi gratificante e ajudou o filho a sentir menos a ausência do convívio com os colegas de classe.

- Meu filho não sofreu, pois tinha um "coleguinha" do lado. Quando o meu pai saía do quarto por algum motivo, o Pedro Henrique corria atrás dele: "Vô, vem, tu não sabes o que está acontecendo!" - comemora.

Quando foi autorizado o retorno às aulas presenciais, Pedro Henrique voltou para a escola. Na tentativa de driblar a saudade dos bons momentos vividos com o neto, Cláudio deu uma missão para a filha: enviar os links das aulas do menino para ele assistir no fim do dia. Todos os conteúdos que julga importantes são devidamente impressos e entregues ao neto.

Além disso, as visitas, que antes da pandemia eram mais esporádicas, se tornaram quase diárias. Para o guri, a convivência em turno integral com o avô foi aprovada, ainda que nas lições de matemática Cláudio tivesse mais dificuldade.

- Acho que em Português ele era melhor. Em Matemática, ele pegava uma folha para fazer os cálculos - diverte-se Pedro Henrique. 

CAMILA KOSACHENCO

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