segunda-feira, 26 de julho de 2021


26 DE JULHO DE 2021
ALICE NO PAÍS DA OLIMPÍADA

O FILHO DA ANA RITA

- Eu tive medo.

Uma confissão dessas, vinda de um atleta olímpico, só acontece em uma conversa muito íntima - papo daqueles para ter com a mãe. E foi o que fez Daniel Cargnin depois de deixar a área de competições com a medalha de bronze no peito. Um fone de ouvido levava ao judoca a voz daquela que foi determinante para que vivesse esse momento.

Cargnin ainda era criança quando Ana Rita recebeu o pedido do técnico das escolinhas de futebol do Grêmio para que o filho ficasse no mundo da bola. Era um lateral talentoso. Mas o guri já fazia aulas de judô e ia bem nos tatames. A mãe insistiu com a luta e ele se tornou judoca profissional.

Quanto mais Daniel evoluía no esporte, maiores tinham de ser os horários de plantão da Ana Rita como nutricionista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Ela não gosta de vê-lo competir. Trabalhar se torna a melhor distração.

Foi assim na competição mais importante dos 23 anos de vida do Daniel. Enquanto o filho participava pela primeira vez dos Jogos, a mãe atendia pacientes na linha de frente do combate à pandemia.

Ana Rita desligou o telefone durante a luta. E só pegou de volta quando soube que tinha acabado. A tempo de atender à produção da Rádio Gaúcha. Eu só tive o privilégio de estar com os fones e o microfone na mão para ser a ponte, a conexão, do primeiro medalhista do judô brasileiro em Tóquio 2020 com sua mãe para desabafar:

- Tive medo, mãe, mas consegui!

Pensei no meu filho, que aos seis anos vive uma fase de ter medo do quarto escuro. Quando consegue dormir sem luz me abraça feliz e diz, assim como o Daniel: "Eu consegui." Sinto uma alegria e um orgulho gigantesco. Posso tentar imaginar como está se sentindo a Ana Rita.

PRAZER, NARRAÇÃO

Enquanto Daniel Cargnin evoluía nas disputas do judô, o gerente-executivo de Esportes do Grupo RBS, Tiago Cirqueira, me dizia:

- Te prepara para narrar uma medalha.

Meu amigo Lucianinho completava o incentivo: "Tudo contigo!" Eu? Como assim? Não sou narradora! O medo tomou conta. Lembrei das trajetórias que os atletas percorreram para estarem aqui. Contei para os gaúchos a medalha de bronze do Daniel não com a voz, a cabeça e o microfone, mas com o coração. Sabíamos que Tóquio apresentaria novidades, mas por essa eu não esperava. E estamos só no começo.

ALICE BASTOS NEVES - DIRETO DE TÓQUIO

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