terça-feira, 9 de julho de 2024



09 DE JULHO DE 2024
NÍLSON SOUZA

Ancestralidade e inspiração

Ambos são contadores de histórias rimadas, e o fazem com a mesma maestria, cada um no seu estilo e gênero. Pois outro dia, pesquisando sobre a obra do grande declamador gaúcho para um livro que a Associação Riograndense de Imprensa prepara com vistas à próxima Feira do Livro de Porto Alegre, deparei-me com esta curiosa semelhança entre versos do gaúcho e do carioca.

Jayme Caetano Braun deixou registrado no seu poema Sem Diploma: "Meu tetravô foi fronteiro/ Meu bisavô, domador/ O meu avô, alambrador/ E o meu pai foi carreteiro/ A mim, não sobrou dinheiro/ Pra cursar a faculdade/ Mas tive a felicidade,/ Graças a Nosso Senhor,/ E me tornei pajador/ Pra guardar a identidade".

E Chico Buarque de Holanda, 20 anos mais jovem, escreveu na canção Paratodos: "O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Meu maestro soberano/ Foi Antônio Brasileiro/ Foi Antônio Brasileiro/ Quem soprou esta toada/ Que cobri de redondilhas/ Para seguir minha jornada/ E com a vista enevoada/ Ver o inferno e maravilhas".

Quem escreveu primeiro? Não sei e nem me importa saber. Não vejo qualquer resquício de plágio nessas pérolas autobiográficas inspiradas na ancestralidade. Prefiro supor que a deusa Inspiração, que tem critérios próprios para escolher seus afilhados, tocou ao mesmo tempo no cérebro e na alma de seus compositores prediletos. Saíram essas maravilhas - e agora estou, deliberadamente, plagiando Chico, que completou 80 anos neste ano do centenário de Jayme Caetano Braun.

Gostaria de escrever como Luis Fernando Verissimo para homenageá-los dignamente. Porém, como meu pai não era paulista nem meu avô, alambrador, e eu não sou compositor, mas um simples jornalista, deixo aos três, como louvor, o abraço do cronista. _

NÍLSON SOUZA

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