25 anos de Sarau Elétrico
O Sarau Elétrico completa 25 anos, e sou o convidado especial de hoje, às 20h, no bar Ocidente, ao lado dos anfitriões Katia Suman, Luís Augusto Fischer e Diego Grando, com canja musical da cantora Izmália. O evento é um fenômeno sobrenatural de leitura. Um milagre. Um acontecimento cultural.
Integra o imaginário porto-alegrense. Dificilmente você encontrará vivente que nunca tenha ido. É como não ter provado o cachorro do Rosário, o PF do Tudo pelo Social, o sanduíche da Lancheria do Parque, o bauru do Trianon. É como nunca ter experimentado um xis na vida.
O público paga 40 pilas para ouvir livros. Não há nada semelhante no país. Dentro de uma casa noturna, acostumada a baladas, abre-se espaço semanalmente para um sarau, para que três amigos, sentados em banquetas altas num palco, repassem trechos de suas leituras prediletas.
Não são performances, não são esquetes: trata-se de um recital à moda antiga. Pela iluminação à luz de velas nas mesas, retorna-se magicamente ao século 19. - É o único evento regular, e o mais longevo do Brasil. Nunca carecemos de público, nunca deixamos de fazer - destaca Katia.
Já ocorreram 1.100 apresentações, já foram lidos aproximadamente 5 mil textos dos mais diferentes autores pelo trio de personalidades. Cinquenta mil pessoas passaram pela sua bilheteria, mais do que a lotação do Beira-Rio ou da Arena.
Desde 1999, antes mesmo dos audiobooks, do Spotify, dos podcasts, a voz é a protagonista. No ambiente de alta concentração, de afinadas emoções, não espere desavisados, tagarelas, perdidos, paraquedistas, gente sem noção. Ninguém trava conversas paralelas ou chega para fofocar. É o momento sagrado para escutar uma hora de narrativas e poemas.
- As pessoas vão para ouvir. O silêncio é letal. Se alguém fala alto, recebe censura dos outros - explica Katia. Certamente a oralidade do projeto aumentou a média de leitura na capital gaúcha. Seus efeitos colaterais são notórios: despertou a curiosidade por novos nomes da literatura e ampliou o debate sobre tabus de comportamento.
Além de contar presencialmente com cerca de cem testemunhas privilegiadas, o encontro é transmitido ao vivo pelo YouTube, em @saraueletrico, com a audiência de mais de mil internautas.
Existe um tema para nortear a escolha das obras, para garantir ordem à inspiração, para regrar a locução literária. Não se foge do assunto da noite, que pode ser fossa, ou solidão, ou recomeço, ou amizade, ou cancelamento, ou exílio, entre tantos.
- Já teve de tudo, haja criatividade para pautas - ri Katia. Os frequentadores assíduos formam uma comunidade de amor às letras. Correm boatos de que vários casamentos começaram ali, na mais profunda quietude, só na base da piscadela e do olhar cúmplice.
Estiveram no palco as mais distintas atrações, de Los Hermanos ao escritor português Gonçalo Tavares. O Sarau Elétrico, inclusive, alcançou a proeza de receber quatro vezes o tímido Luis Fernando Verissimo, num tetracampeonato de uma presença rara, já que o cronista é famoso pela discrição e recato.
Pergunto para Katia se falta convidar alguém. - Ah, sim, o Caetano Veloso podia aparecer lá. Quem sabe o cantor leia o apelo e se dê de presente no aniversário de um quarto de século do Sarau Elétrico. _
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