24 de Julho de 2024
EDITORIAL
EDITORIAL
Isolamento ferroviário
A condição crítica da infraestrutura de transportes do Rio Grande do Sul após a enchente de maio vai além das diversas estradas danificadas e interrompidas, de pontes arrastadas e do aeroporto Salgado Filho sem voos. O Estado está desde maio sem ligação ferroviária com o restante do país. Concessionária da malha gaúcha, a Rumo parece não ter pressa em restabelecer os trechos bloqueados. É uma situação inaceitável, que agrava o desleixo com o modal no últimos anos.
Reportagem da RBS TV veiculada na segunda-feira mostra que ao menos quatro pontos de ferrovias que estavam operacionais foram afetados pelos efeitos das chuvas. O quadro prejudica principalmente o fornecimento de combustíveis. Cerca de 80% do etanol que chegava ao Rio Grande do Sul para abastecer automóveis e produzir o plástico verde no Polo Petroquímico de Triunfo era transportado por trens. Uma parte significativa da produção da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, também era distribuída ao Interior por trilhos.
A interrupção do transporte ferroviário eleva os custos logísticos. Também torna o trânsito mais perigoso nas rodovias. Sem trens, mais caminhões têm de ir para as estradas, já sobrecarregadas e com diversos problemas de fluxo devido aos estragos causados pelas chuvas.
Ouvido pela RBS TV, o vice-governador Gabriel Souza, que costuma tratar do tema das ferrovias, se disse indignado pelo descaso da concessionária. Inclusive pelo fato de o Estado não ter recebido nenhuma comunicação oficial da empresa sobre os trechos bloqueados. A resposta da companhia aos questionamentos da reportagem é desalentadora. Informa apenas que prepara um relatório sobre os prejuízos, a ser apresentado aos governos federal e do Estado no dia 19 de agosto. Daqui a quase um mês. Mas nada sobre perspectivas de retorno das operações.
A Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário, do Ministério dos Transportes, também foi procurada. Disse pretender criar um grupo de trabalho para buscar soluções. Ora, sabe-se muito bem: no Brasil, criar um grupo de trabalho significa que o assunto será empurrado com a barriga. O governo federal, poder concedente, não pode se omitir. Espera-se também que o Piratini e entidades empresariais elevem o tom das cobranças por medidas concretas por parte da concessionária, sem mais tergiversações.
Dos 3,2 mil quilômetros de estradas de ferro concedidas no Estado em 1997, menos da metade estava em uso até o início deste ano. Trechos foram paulatinamente abandonados ao longo do tempo. Em 2011, o volume transportado pelas ferrovias gaúchas chegou a 14 milhões de toneladas. Em 2021, foram somente 3 milhões de toneladas. É uma retração que vai na contramão do país.
O contrato de exploração da Malha Sul, em que o Rio Grande do Sul está incluído, vai até 2026. Organizações empresariais do Estado mostram-se insatisfeitas com a situação vigente. Os governos de Santa Catarina e do Paraná também. Manter o quadro atual contraria frontalmente os interesses econômicos regionais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário