11 DE JULHO DE 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes
O nosso 11 de Setembro
Naquele 27 de janeiro de 2013, eu era editor de Capa de Zero Hora. E aquela primeira página do jornal do dia seguinte, com a notícia do incêndio da boate Kiss, eu nunca quis ter feito. Lembro que procuramos, colegas editores e eu, referências de publicações internacionais após os atentados nos Estados Unidos em 2001 em busca de exemplos de como retratar o horror. A Kiss era o nosso 11 de Setembro.
Por fim, decidimos por uma página inteira preta, a foto reduzida, de uma moça usando um chapéu gauchesco debruçada sobre um caixão. Acima, em tons sóbrios, apenas o logotipo do jornal e a inscrição: "Santa Maria, 27/01/2013". Não havia manchete, como se o Jornalismo não achasse palavras adequadas para definir aquilo tudo. Em certas ocasiões, de fato, não as encontramos.
Tempos depois, como repórter, entrei na Kiss, acompanhado do fotógrafo Jefferson Botega. Flávio Silva, pai de Andrielle, era o guardião das chaves da boate. Enquanto caminhávamos lá dentro, em total escuridão, eu imaginava o que passava pela cabeça do Flávio, nosso guia por aquele local desgraçado: os guarda-corpos que impediram a saída de centenas de pessoas, os espelhos que refletiram, antes da tragédia daquela noite, rostos maquiados de jovens que saíram para se divertir, os mictórios com desenhos como o de Coringa, que me causaram má impressão, e a armadilha do banheiro feminino, onde estava a janela concretada que enganou muita gente na expectativa de que fosse uma saída.
Não tenho lugar de fala para opinar sobre o desmonte do prédio da Kiss, iniciado ontem. Essa decisão cabe aos pais e amigos das vítimas. Mas confesso meu sentimento ambíguo. Materialista que sou, sinto que derrubar as paredes da boate é como arrancar um último pedaço da história daquela maldita noite.
Ao mesmo tempo, reconheço, o prédio é como uma ferida aberta no centro de Santa Maria - e na alma do RS. Talvez, passados 11 anos, seja melhor mesmo olhar para frente, sem esquecer o passado. Transformar aquele lugar sombrio de concreto e tijolo em uma área aberta, com verde e muito ar puro - como, aliás, Nova York soube fazer na região onde ficavam as torres gêmeas. No fundo, o que ficam são as memórias. E essas não morrem. Jamais. _
RS em destaque com locais com melhor qualidade de vida
O RS aparece em 7º lugar, Porto Alegre em 13º e Presidente Lucena, no Noroeste, em 11º, em um levantamento que analisa os Estados, capitais e municípios do Brasil com melhor desempenho social e ambiental do país. Trata-se do Índice de Progresso Social Brasil (IPS), que analisa a qualidade de vida nos locais.
Entre os dados pesquisados, no escopo das Necessidades Humanas Básicas, tem como exemplo os índices de água e saneamento; e segurança pessoal. Na linha de Fundamentos do Bem-estar, analisam o acesso à informação e comunicação; e saúde e bem-estar. No quesito Oportunidades, verificam direitos individuais e inclusão social. _
1. Gavião Peixoto SP
2. Brasília DF
3. São Carlos SP
4. Goiânia GO
5. Nuporanga SP
6. Indaiatuba SP
7. Gabriel Monteiro SP
8. Águas de São Pedro SP
9. Jaguariúna SP
10. Araraquara SP
11. Presidente Lucena RS
12. Luzerna SC
13. Pompéia SP
14. São Caetano do Sul SP
15. Maringá PR
Iniciativas criativas para o Estado
A Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict) do RS realizou ontem e repetirá amanhã rodadas de apresentação de soluções tecnológicas para municípios atingidos pela enchente.
As iniciativas fazem parte do Catálogo de Soluções Tecnológicas, um acervo que reúne propostas para as cidades afetadas.
- O objetivo é buscar soluções a partir das ocorrências ambientais, com ações que toquem as necessidades da sociedade - diz a secretária Simone Stülp.
Ao todo, 270 soluções já estão presentes no formulário do RS, do Brasil e de fora do país. Conforme Simone, o catálogo nasce com a ideia de ter, em um lugar único, informações e soluções da Academia, startups, empresas e de pessoas físicas. _
Em busca da Justiça internacional
Familiares das vítimas da Kiss se juntarão amanhã a parentes que perderam seus entes queridos em outros quatro grandes desastres brasileiros para pedir por Justiça na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Junto a sobreviventes e parentes dos rompimentos das barragens da Vale, em Brumadinho (2019), da Vale e da BHP, em Mariana (2015), do afundamento do solo causado pela Braskem em Maceió (2018) e do incêndio no alojamento do Ninho do Urubu, do Flamengo, no RJ (2019), o grupo espera que a comissão renove a urgência de o Estado brasileiro tornar efetiva a fiscalização das atividades empresariais e comerciais no país para evitar novas tragédias, e do seu dever de processar e punir os responsáveis. Juntas, as tragédias mataram 544 pessoas.
- É uma oportunidade única de levar ao conhecimento desse órgão internacional as graves violações de direitos humanos que ocorreram nesses cinco casos que marcaram a história recente do Brasil - diz Tâmara Biolo Soares, advogada e representante das vítimas na comissão da OEA. _
Um novo Biden na corrida eleitoral
Joe Biden pareceu ser outra pessoa ao discursar na terça-feira no aniversário de 75 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Diferente daquele Biden vacilante, abatido, com problemas na fala e até de raciocínio no primeiro debate presidencial no dia 27 do mês passado, agora o americano se mostrou vívido, enérgico, com voz firme e capaz até mesmo de criar esperanças aos democratas.
Depois de ter rejeitado em várias ocasiões a possibilidade de abandonar a corrida presidencial, ele deve até o final da semana cumprir uma agenda extensa na tentativa de convencer os doadores e eleitores de que está firme e forte para enfrentar Donald Trump.
Ontem, ele esteve em um evento com sindicalistas em Washington e hoje participa de uma entrevista coletiva na Casa Branca. Amanhã, irá a Detroit, no Michigan, um dos campos de batalha que costumam ajudar a decidir a eleição.
Um fato não se nega: Biden tem 81 anos e, caso vença, terminará o mandato com 86 anos. _
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