quinta-feira, 25 de julho de 2024



25 DE JULHO DE 2024
RELATÓRIO DA ONU

RELATÓRIO DA ONU

Brasil melhora, mas 8,4 milhões ainda passam fome, aponta estudo

Índice caiu entre 2021 e 2023 na comparação com o triênio anterior, mas ainda é elevado. Ministro afirma que volume de pessoas com desnutrição crônica despencou no ano passado, como efeito da retomada de programas sociais. No mundo, nível segue acima dos anteriores à pandemia de covid-19

Um total de 8,4 milhões de pessoas ainda passa fome no Brasil, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado ontem. O estudo aponta que quase um quinto da população brasileira não teve acesso adequado à alimentação nos últimos três anos.

O resultado indica avanço em relação à medição anterior, mas mantém o país no Mapa da Fome, do qual chegou a sair em 2014 e retornou em 2019.

Divulgado anualmente, o relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo mostra que, no triênio compreendido entre 2021 e o ano passado, 3,9% da população brasileira apresentou desnutrição crônica. A ONU considera que um país integra o Mapa da Fome quando esse índice é igual ou superior a 2,5% do total da população.

O resultado é um pouco melhor do que o apresentado no relatório do ano passado (referente ao triênio 2020-2022), com recuo de 0,8 ponto percentual no índice total de pessoas em situação de fome. Ao todo, 1,7 milhão de brasileiros deixaram de sofrer de desnutrição crônica, equivalente a um terço do necessário para que o país saia do mapa.

Redução em 2023

Ainda conforme o estudo, o Brasil teve ao longo do último triênio 39,7 milhões de habitantes com insegurança alimentar moderada ou grave. Segundo a agência da ONU, a moderada é aquela em que a pessoa tem dificuldade em ter acesso a uma alimentação adequada, o que faz com que, em determinado período, acabe comendo menos, ou com menor qualidade. Já a insegurança grave é quando falta efetivamente comida por um dia ou mais.

Durante a cerimônia de apresentação do relatório, que ocorreu em paralelo às reuniões do G20 no Rio de Janeiro, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, apresentou um dado individualizado para o ano de 2023 - a FAO trabalha apenas com números trienais. Segundo ele, no ano passado o número de brasileiros em condição de fome caiu 85%, chegando a 2,5 milhões (cerca de 1,2% da população).

Dias atribuiu o fenômeno à retomada de programas sociais que teriam sido "desvirtuados, esvaziados ou interrompidos" nos últimos anos.

- Hoje digo, com segurança, que no caminho que estamos é possível, dentro do governo Lula, até 2026, sair do Mapa da Fome - afirmou Dias.

O desempenho do Brasil foi elogiado pelo diretor-geral da FAO, Qu Dongyu.

O relatório também mostra que a fome no planeta permanece em nível superior aos anos anteriores à pandemia, que gerou desaceleração econômica e encareceu os alimentos. Cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2023 (veja acima). _

País defende taxação de grandes fortunas

Durante o ato de pré-lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a fome decorre de "escolhas políticas". Em discurso, Lula lembrou que, enquanto os índices de desnutrição avançaram no planeta, os gastos com armamentos subiram no ano passado.

- Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicar a fome. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos - afirmou.

A aliança está sendo proposta pelo Brasil, que ocupa a presidência temporária do G20 e, no encontro que ocorre no Rio de Janeiro, o bloco aprovou os documentos fundacionais da iniciativa, dando início à adesão pelos países.

Qualquer país interessado poderá aderir. O lançamento oficial será formalizado na Cúpula de Líderes do G20, em novembro, também no Rio.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também participou do evento, disse que o Brasil conta com recursos da taxação de grandes fortunas, os chamados super-ricos, para financiar iniciativas da aliança. Haddad citou um estudo do economista francês Gabriel Zucmanque que estima uma arrecadação de até US$ 250 bilhões por ano, caso bilionários fossem taxados em 2% das riquezas.

- É aproximadamente cinco vezes o montante que os 10 maiores bancos multilaterais dedicaram ao enfrentamento à fome e à pobreza em 2022 - alegou o ministro. 

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