15 DE JULHO DE 2024
EDITORIAL
A violência é estranha à democracia
O atentado contra o ex-presidente norte-americano Donald Trump deve merecer o repúdio de todos os defensores da democracia, independentemente de preferências ideológicas. A política é o espaço da disputa de ideias e propostas, e não de diferenças resolvidas pela violência. Como já é amplamente sabido, Trump, virtual candidato do Partido Republicano à Casa Branca, foi atingido de raspão após tiros serem disparados em um comício que realizava no sábado, no Estado da Pensilvânia. O atirador foi morto e outra pessoa que estava no evento também perdeu a vida.
Um acontecimento com tamanha gravidade, em um período de elevada polarização social, requer grande responsabilidade das lideranças políticas. É o momento de buscar serenar os ânimos, para evitar uma escalada de agressividade, com consequências perigosas para a democracia dos EUA. Devem ser evitadas posturas como relativizações, trocas de acusações, disseminação de teorias conspiratórias e tentativas oportunistas de capitalizar eleitoralmente o caso.
O mais prudente é aguardar o andamento das investigações, que, por certo, conseguirão elucidar as circunstâncias e as motivações do ataque contra Trump, assim como esclarecer o que ainda é necessário em relação ao atirador. Palavras apaziguadoras dos nomes mais influentes dos partidos Republicano e Democrata são importantes para também tentar acalmar a massa de apoiadores de lado a lado. Infelizmente, assassinatos e tentativas de magnicídio não são novidade nos EUA. Quatro presidentes foram mortos a tiros e há inúmeros registros de ataques a mandatários e postulantes à Casa Branca. A radicalização atual é um agravante. Eleva o risco de transbordamento da agressividade para a sociedade.
Nesse sentido, foram adequados os primeiros pronunciamentos de próceres democratas, em especial do presidente Joe Biden, possível rival de Trump na eleição de novembro. No tom correto, disse estar grato pelo oponente político estar "seguro e bem" e ressaltou que "não há lugar para esse tipo de violência na América". O fato de Biden e Trump terem conversado após o incidente tem grande simbolismo.
É natural que um fato de altíssima repercussão, com lugar garantido na História, reverbere em todo o mundo, inclusive no Brasil. Mas a mesma prudência deve ser exercida aqui. É reprovável qualquer tentativa, à esquerda ou à direita, de politizar ou tentar tirar proveito interno do caso.
O ataque contra Donald Trump é mais uma oportunidade para se refletir sobre o quadro político atual em nações como o Brasil e os EUA, mas não só. O ex-presidente Jair Bolsonaro, enquanto candidato, em 2018, também foi vítima de um ataque a faca, que quase tirou a sua vida. As eleições gerais em 2022, em um ambiente belicoso, foram fartas em episódios de violência com desfechos fatais.
O país terá novo pleito municipal neste ano, ainda sob efeito de uma polarização destrutiva. Palavras e incitações têm consequências. Podem ser trágicas. Passou da hora de refrear discursos divisivos e instigadores de ódio entre concidadãos. Eleição é um acontecimento cívico e democracia é o espaço que faz uso da civilidade para resolver diferenças. Nelas, não há espaço para a barbárie.
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