Um dia sem celular
O apagão cibernético do último dia 19, que prejudicou conexões e serviços essenciais em todo o mundo, incluindo aeroportos e hospitais, deixou a humanidade sobressaltada. O temido bug do milênio, que não passou de um pânico coletivo na virada de 1999 para 2000, mostrou sua cara real agora, embora sem a dimensão apocalíptica alardeada na ocasião.
Mas causou estragos e deixou lições, especialmente para empresas e organizações que dependem de sistemas informatizados para funcionar - ou seja, quase todas. Muitas, pelo que sei, passaram a desenvolver planos próprios de prevenção e recuperação de desastres tecnológicos para garantir a segurança de seus dados e proteger seus ativos, o que inclui também treinamento adequado de pessoal para dar respostas imediatas aos clientes.
E nós, indivíduos, estamos preparados para um imprevisto desses? Se não estamos, deveríamos estar. Imaginemos, por exemplo, um apagão demorado de fornecimento de energia elétrica semelhante ao que aconteceu recentemente nas áreas mais atingidas pela enchente em nosso Estado. As filas para carga nos celulares nos raros pontos energizados deram uma ideia aproximada da nossa atual dependência da comunicação individual. Já não sabemos viver sem a telinha móvel.
Por isso, deveríamos prestar atenção numa experiência que vem sendo feita em algumas escolas do país como desafio à geração digital: passar um dia sem celular. Os defensores da ideia argumentam que é uma oportunidade para crianças e adolescentes se desconectarem, com o propósito de exercitar o corpo e a sociabilidade. Deveria ser também um treinamento para emergências, como nos desafios de grupos levados a lugares isolados com kit básico de sobrevivência.
Um dia sem celular, você consegue? Sem usar o aparelho como despertador pela manhã, sem consultar as horas nele, sem mandar zap para os amigos, sem chamar carro de aplicativo, sem fazer movimentação bancária online, sem vender nem comprar nada, sem ver as notícias do dia na palma da mão, sem passar a localização para familiares e amigos, sem postar nas redes sociais, sem se divertir com jogos ou vídeos engraçadinhos.
Se você é um analógico convicto, está dispensado deste treinamento para o apocalipse. _
NÍLSON SOUZA
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