segunda-feira, 22 de julho de 2024



22 DE JULHO DE 2024
EM ÁGUAS TRANQUILAS

EM ÁGUAS TRANQUILAS

Cisne Branco faz festa noturna para marcar retomada depois da enchente

Em águas tranquilas

Parado por 78 dias, barco voltou a navegar na noite de sábado com 219 passageiros a bordo. Além dos passeios turísticos no Guaíba, ideia é realizar atrações educativas

Karine Dalla Valle

Dizem que o Guaíba causou um trauma nas pessoas. Que algumas sequer querem vê-lo de perto tão cedo. Para colocar o Cisne Branco navegando novamente sobre ele, a proprietária Adriane Hilbig entendeu que era preciso fazer as pazes com suas águas. Apostando no simbolismo do Dia do Amigo, a volta da embarcação turística ocorreu na noite de sábado, com uma festa a bordo do barco.

Foram 78 dias atracado, sem realizar qualquer passeio, mas dando suporte às equipes que operavam resgates na Orla. Adriane só havia enfrentado crise semelhante em 2016, quando o barco herdado do pai virou de lado e naufragou, ficando paralisado por nove meses. As viagens também pararam na pandemia.

Quando as 219 pessoas que compraram ingresso para a festa da retomada já haviam se acomodado, a empresária pegou o microfone para agradecer a tripulação formada por cinco marinheiros. Foram eles que cuidaram do barco turístico mais famoso de Porto Alegre, em atividade desde 1978, quando o rio não era causa de alegria, mas de pânico.

- A gente passou muito tempo amaldiçoando o Guaíba. Precisamos ter orgulho dele e de nossa cidade - disse Adriane.

Sem rancor

Com os braços apoiados na lateral da popa, Josane Fritzen admirava a costa iluminada pelas luzes da cidade. Ela mora em um apartamento térreo na Rua dos Andradas, próximo à Usina do Gasômetro, em um pequeno trecho que, por sorte, não alagou. A babá de 32 anos não entende a raiva que as pessoas podem nutrir pelo Guaíba. Natural de Arroio do Meio, cresceu testemunhando os reveses provocados pelas cheias do Rio Taquari.

- As pessoas não têm noção que o Guaíba é independente. Não tem como ter raiva de algo que faz parte da natureza. Temos que aprender com ele, em vez de ter raiva. Sempre digo que a natureza é boa em nos apresentar problemas sobre os quais nunca havíamos pensado - argumentou a mulher, que fazia o passeio acompanhada de duas amigas.

No alto do convés, onde os passageiros conversavam animadamente e alguns arriscavam passos de dança, Andressa Griffante mirava a costa a partir de um ponto pouco usual que o rio oferece. Com as malas prontas para mudar-se para Belo Horizonte na companhia da cachorra Paçoca, resgatada da enchente, a jornalista de 36 anos quis despedir-se da cidade natal com o tradicional passeio de barco. Hoje, embarca rumo à nova vida.

- Embora o Guaíba tenha parte nas tragédias que se sucederam, Porto Alegre se relaciona há muito com ele. Agora, sabe-se que esses eventos extremos podem acontecer - disse.

Adriane Hilbig planeja roteiros educativos com o Cisne Branco, misturando informações sobre o Guaíba e suas cheias históricas. Acredita que é olhando para o que aconteceu, em vez de negar ou esquecer, que tragédias serão evitadas. Enquanto os novos passeios são finalizados, o barco voltará com as rotas tradicionais aos finais de semana.

- Porto Alegre nasceu do rio. Os açorianos vieram dali. Até meus 10 anos, eu tomava banho no Guaíba. Mas em 50 anos, poluímos. Nós só preservamos aquilo que conhecemos. Se tivermos consciência, o cuidado será diferente. _

"Nós só preservamos aquilo que conhecemos. Se tivermos consciência, o cuidado será diferente."

Adriane Hilbig - Proprietária do Cisne Branco

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