25 de Julho de 2024
FORMAÇÃO DO ESTADO - Fernanda Polo
FORMAÇÃO DO ESTADO
Herança
RS celebra os 200 anos da imigração alemã
Chegada dos primeiros colonos germânicos, em julho de 1824, deu início a uma série de contribuições decisivas à cultura, à gastronomia e ao desenvolvimento do Estado. Em muitas regiões gaúchas, descendentes dos pioneiros tomam para si a missão de transmitir as tradições às próximas gerações
Quarenta e cinco imigrantes germânicos desembarcaram em Porto Alegre em 18 de julho de 1824. No dia 25, chegaram 39 a São Leopoldo (ainda parte da Capital), onde estabeleceriam a primeira colônia rural-militar do Brasil, já independente. Agricultores, artesãos e profissionais liberais construiriam ali os alicerces que definiriam o futuro de milhares de famílias gaúchas.
Exatos dois séculos após a chegada dos pioneiros, diversas tradições seguem preservadas, à sua própria maneira. O café colonial preparado com esmero e posto à mesa da família Schneider, em Dois Irmãos, no Vale do Sinos, é prova disso. Jaqueline, 49 anos, cuidadora de crianças, é a responsável pelas receitas do lar. Na residência, a variante Hunsrückisch e o português alternam-se livremente.
Ativa e engajada, a viúva Marlene Schneider, 73, participa de três corais, do grupo de danças típicas alemãs, além de outras atividades, e luta para manter os costumes vivos. A aposentada produz Spritzbier (bebida gaseificada germânica), inclusive em grandes quantidades para os eventos da cidade, como o Kerb de São Miguel.
- Isso é tudo para a gente. É uma tradição dos antepassados que a gente não pode perder jamais - afirma Marlene.
Caderno com receitas
Na Westfália, muitos ainda preservam elementos da cultura dos antepassados. Na cidade do Vale do Taquari, a língua co- oficial é a variante westfaliana Plattdüütsk, conhecida como Sapato de Pau - em homenagem à tradicional peça trazida pelos imigrantes para se abrigar do frio e da umidade. Além da língua, a família da produtora rural Taila Ahlert, 29, cultiva o hábito da agricultura, de criar a própria carne e da comida caseira.
Os costumes são ensinados desde a infância - a família guarda um caderno com receitas que passam de geração a geração. Taila se alegra por viver em comunidade e participar do grupo de danças folclóricas com sapato de pau, Westfälische Tanzgruppe, do qual é coordenadora.
- Vendo o que hoje ainda é cultivado na questão da tradição alemã, a gente percebe essa cultura ainda muito forte aqui na região - ressalta Taila.
Na pequena bagagem carregada para o Brasil, os pioneiros trouxeram diversas contribuições ao RS. Historiador e autor do livro sobre a imigração alemã 1824, Rodrigo Trespach destaca, principalmente, a educação como fator de transformação; a religião protestante, com o estabelecimento da primeira igreja não católica no Brasil; a valorização do trabalho; o espírito de comunidade; o senso de associativismo e cooperativismo; e, posteriormente, o desenvolvimento da culinária e arquitetura típicas, bem como clubes e sociedades. Felipe Kuhn Braun, pesquisador sobre a imigração alemã e detentor de um acervo de 45 mil fotos antigas, enfatiza ainda o comércio e a indústria; e os grupos folclóricos e corais, mais recentes.
Trespach avalia:
Eles (os imigrantes) contribuíram muito com a questão da formação do povo gaúcho.
Do mesmo modo que trouxeram o uso da carne de porco, aprenderam a utilizar a carne do gado. Aqui, também desenvolveram o uso do aipim e das mais diversas formas da batata, com a qual já tinham contato. Houve uma mistura de elementos, que gerou, por exemplo, a cuca. Essas modificações configuram uma cultura teuto-brasileira, na visão de Braun:
- É feliz quem pode conhecer mais da sua própria história e preservar o que deseja.
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