terça-feira, 30 de julho de 2024



30 de Julho de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

A naturalização da ditadura

Observadores podem denunciar, ONGs, espernear, e o governo brasileiro pode tentar ganhar tempo à espera das atas das mesas eleitorais (que, aliás, não aparecerão), mas a verdade é que, daqui algumas horas ou dias, ninguém mais lembrará do arremedo de eleição na Venezuela.

A apatia voltará a tomar conta em um triste processo de naturalização da ditadura bolivariana. Isso até a próxima bravata de Nicolás Maduro, alguma guerra fictícia que inventar nas barbas do Brasil ou uma nova leva de imigrantes venezuelanos, em fuga do regime, transbordar pelas fronteiras. Aí recomeça o ciclo: mais palavras duras, muita retórica, algumas ameaças. E, logo, o esquecimento.

Infelizmente, é assim: ou alguém lembra que um conflito armado segue em curso na Ucrânia ou entre Israel e o grupo terrorista Hamas?

A confirmação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da vitória de Maduro na eleição de cartas marcadas de domingo, enquanto pesquisas respeitadas mostravam o líder opositor Edmundo González Urrutia com vantagens superiores a 30% não joga a Venezuela na incerteza. O país sul-americano já vive na incerteza há décadas.

Maduro não fez nada diferente do que o regime chavista-madurista vem fazendo há 25 anos: persegue oposição, prende detratores, dificulta a inscrição de candidatos contrários, realiza um pleito de faz de conta, dá um verniz democrático, prometendo respeitar o resultado e, depois, decide o mesmo.

O rei entronado no Palácio de Miraflores sabe que o mundo, ou a chamada comunidade internacional, esquece rápido. Grita-se por alguns dias, ocorrem os "cacerolazos", mas logo passa. Virão novas sanções. Mas também em seguida o regime se adapta. Só quem continua sofrendo são os venezuelanos, acossados pela "Revolução" transfigurada em autoritarismo. _

Entrevista

Carlos André Bulhões - Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

"Vou fazer o que não fizeram comigo: uma transição decente"

A menos de dois meses de deixar o cargo, o reitor da UFRGS, Carlos Bulhões, recebeu a coluna para uma conversa sobre os quatro anos à frente da universidade. Sinuca de bico para o Brasil no reconhecimento das eleições

A nota divulgada pelo Itamaraty não reconhece a vitória de Maduro - nem cita seu nome - e pede as atas das urnas. Ao mesmo tempo, o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, afirmou a jornalistas:

- É meio difícil ter a proclamação sem ter a transparência, a disponibilidade das atas.

A proclamação ocorreu. Mesmo sem os documentos.

Agora, o Brasil precisa decidir: continuar o discurso de dias atrás que iria respeitar o resultado, ou seguir outros líderes internacionais e contestar o resultado sem a "transparência" pedida. _

INFORME ESPECIAL

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