Só podemos dar o que recebemos
O primeiro sintoma de que não está sendo amado é não ter mais paciência. Você fica irritado por qualquer coisa. Você explode por qualquer bobagem. Você chora por qualquer incômodo. Não mantém nenhuma margem ou distanciamento para pensar, meditar, separar os fatos individuais dos coletivos. Acha que tudo é pessoal.
Quando somos amados, nós temos tranquilidade para aceitar a contrariedade, a dificuldade, para fazer ajustes e consertar a nossa realidade.
No desamor, você usa toda a sua energia, todo o seu fôlego dentro do relacionamento, tendo que se explicar de modo inútil e desnecessário, tendo que justificar as mínimas escolhas, tendo que dizer excessivamente o óbvio. Cansa tanto com o básico que não sobra motivação para si mesmo.
Porque a outra pessoa não escuta você, a outra pessoa não presta atenção em você, a outra pessoa não valoriza o seu tempo, a outra pessoa não é grata com a sua presença, a outra pessoa não reconhece a sua dedicação.
Não ter paciência significa que o amor só vai e não retorna. Você não está sendo abastecido de ternura, de delicadeza, de carinho. Você se transforma em um bicho rude, instável, hostil, amedrontado. Você se habitua a não ser bem tratado, a lidar com ordens, a se defender de gritos e grosseria, a repetir histórias que nunca serão guardadas.
Sem perceber, você começa também a tratar mal quem permanece à sua volta. É um reflexo da precariedade a que se submete. Se você está sendo menosprezado, você menospreza. Se está sendo cobrado, você cobra. Passa a agir do mesmo jeito. Entra no círculo vicioso da pressa e da distorção. Jamais podemos esquecer que só damos o que recebemos.
Ao suportar uma convivência de baixa qualidade, com ruídos de comunicação, isso vai afetar o seu diálogo com os mais próximos. Seu mundo interior andará sufocado, espremido, esgoelado, e não apresentará mais aquela tolerância que tinha de ouvir. Não vai rir mais, não vai se divertir com os contratempos.
Os ecos da violência psicológica se tornarão maiores do que a sua voz. Não desfrutar de amor em seu lar é perder, gradativamente, o contato saudável com o seu círculo de afetos. Você se verá desnutrido por ausência de luz.
É como viver na sombra e, de repente, sair para a rua e precisar fechar os olhos por não aguentar aquele excesso de claridade. Você não consegue mais abrir os seus olhos como antes. Ficou no escuro por um longo período. Está acostumado com o escuro.
Quando é amado, você dá conselhos, ampara, conforta, é capaz de ajudar os familiares e amigos em suas crises.
Quando não recebe amor na relação, fica arisco, incomunicável, tenso. Não é capaz nem de escutar com sobriedade um impasse de um colega.
Você se isola no silêncio. Desiste de falar. Desiste de se expor. Desiste de conversar.
Acaba virando uma presa ainda mais fácil para a manipulação. A tristeza domestica. A tristeza vicia.
Numa relação dependente, o que o cônjuge mais quer, para dominar você, é que esteja abatido. Assim não sai de casa, não se encontra com ninguém e se mostra sempre disponível, exclusivo, no cativeiro. _
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