sexta-feira, 26 de julho de 2024



26 de Julho de 2024
DIRETO DA REDAÇÃO

Biden e as pessoas velhas

Para que serve um velho? Parece uma pergunta grosseira, mas a reflexão é importante. Em toda a história da civilização, os velhos exerceram um papel crucial. Na Roma Antiga, o conselho de anciãos, que já era comum nas sociedades orientais, ganhou o nome de Senado - e esses anciãos passaram a fiscalizar as autoridades e controlar as finanças públicas. Alexandre, o Grande, aos 30 anos de idade era praticamente o dono do mundo, mas seu conselheiro, seu professor e mentor intelectual era o velho Aristóteles. 

Quer dizer: os mais velhos, em dado momento, sempre deixaram a linha de frente para abrir espaço aos mais jovens, mas continuavam, até o fim da vida, valorizados como pessoas que tinham um atributo muito útil: a sabedoria. Porque o jovem é necessário quando precisamos de iniciativa, ímpeto e energia, mas nada disso basta sem prudência, traquejo e maturidade - virtudes que vêm com a experiência.

Só que hoje as coisas mudaram. Pessoas velhas parecem ter mais dificuldade para deixar a linha de frente. Parecem confusas sobre qual é o seu papel, sobre como podem contribuir sem estar na liderança. Por quê? Porque houve, de 30 anos para cá, uma transformação inédita na história da humanidade: pela primeira vez, um volume brutal de conhecimento passou a ser transmitido das gerações mais novas para as gerações mais velhas.

A situação do velho de hoje é a seguinte. Quando era jovem, há algumas décadas, sua meta era entrar no mundo dos velhos - porque eram os velhos que detinham o saber e o sucesso na carreira. Agora, que virou velho, sua meta é entrar no mundo dos jovens, porque são os jovens que detêm o saber e o sucesso na carreira. Quem aguenta uma rasteira dessas? Se a meta é entrar no mundo dos jovens, não dá para sair da linha de frente. Todo mundo, não importa a idade, precisa estar discursando, postando nas redes, exibindo sua imagem, dominando tecnologias, demonstrando vigor e liderando alguma missão. Como Biden liderava, até semana passada.

Aos 81 anos, ele fez o que historicamente os mais velhos sempre fizeram: cedeu lugar para alguém mais jovem encabeçar uma tarefa extenuante. A dúvida é se Biden continuará valorizado pelos atributos que tem - e que a experiência o ajudou a construir. Porque o jovem, tudo bem, ele pode até ter conhecimento. Mas sabedoria, que é saber empregar o conhecimento, isso ninguém tira dos velhos - e nunca ela foi tão necessária. _

Paulo Germano - DIRETO DA REDAÇÃO

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