quarta-feira, 23 de julho de 2014


23 de julho de 2014 | N° 17868
PAULO SANT’ANA

Os pesadelos

Tem chovido muito aqui no Sul.

E, quando bate a chuva, recolho-me a meus aposentos e faço duas coisas: recordar e rezar.

Quando recordo, encontro-me comigo. Quando rezo, encontro-me com Deus.

Quando falo em Deus, não me refiro ao Jeová das Sagradas Escrituras nem ao pai do filho dileto Jesus Cristo.

Quando eu falo em Deus, refiro-me à força cosmopolita que preside a origem e o destino de todas as coisas, inclusive os homens, esse ímã que nos atrai e para que somos atraídos.

Por sinal, a Bíblia e o catecismo têm me confundido por vezes quando qualificam Deus. Eles ora dizem que Deus é titular de “profunda e infinita misericórdia”, dando-me a entender que não há pecado que fuja ao perdão de Deus.

Mas, por outro lado, os ensinamentos bíblicos dão conta da “ira de Deus”.

O melhor exemplo da “ira de Deus” é o episódio em que Jesus Cristo, quando tinha apenas 12 anos de idade – ou 30 anos, não se sabe porque Bíblia não se refere em nenhuma linha à Jesus nesse interregno –, expulsou os vendilhões do templo a golpes de chicote.

Calculo que os vendilhões do templo, posso estar enganado, eram camelôs que se instalaram nas escadarias e nos corredores do templo destinado a venerar Deus, vendiam ali suas quinquilharias. E Jesus, calculo, entendeu que ali não era lugar para que exercessem suas mercancias.

Quanto à “ira de Deus”, eu acreditava que a entidade divina era tão superior que não iria se entregar, nem por instantes, à ira. Mas enfim...

E assim vão ocupando as minhas reflexões nos dias chuvosos esses pensamentos sobre Deus e sua influência sobre todas as coisas, inclusive os homens.

Fico pensando sobre Deus e seus ensinamentos até que o sono venha me apanhar. E então mergulho no sono e, bem mais tarde, acordo sobressaltado.

Aliás, sempre me sobressalto em pleno sono quando fico encurralado e não consigo fugir de algum terror, deve ser o recurso do sono que me faz acordar.


E que alívio ver que não era verdade o que me aterrorizava. E volto à realidade, onde por sinal me esperam, às vezes, ameaças mais terríveis do que as contidas em alguns pesadelos.