segunda-feira, 28 de julho de 2014


28 de julho de 2014 | N° 17873
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

Todo mundo que jamais se formou na high school norte-americana ouviu a marcha Pomp and Circunstance, do compositor John Phillip Sousa. Os Estados Unidos, diferentemente da gente, são um país com uma tradição marcial forte, que começa quando eles derrotam a Inglaterra e não param mais de bater em todo mundo – até o Vietnã.

Os EUA são um país que se amarra em uma tradição, um ritual, uma formalidade cheia de simbolismos. Eles acreditam em oratória até hoje, e um presidente lá tem de ser, acima de tudo, um bom orador. Bem, há exceções.

A presidência é uma instituição americana. Eles adoram falar do presidente, olhar para o presidente, falar mal do presidente, num nível só comparável ao que os ingleses dedicam de atenção à monarquia, com a diferença de que a rainha reina e não governa, e o presidente manda e desmanda, ao menos até onde a oposição deixa.

A tradição política americana é longa e recheada de grandes líderes, como Lincoln, Jefferson, Roosevelts (o segundo, ao menos). Ela tem muitos presidentes esquecíveis, e isso eles fazem muito bem, ou alguém já ouviu falar em Chester A. Arthur? Pois é.

E, como não poderia deixar de ser, uma das grandes séries americanas dos tempos das caixas de DVD é The West Wing. Ali, o presidente Bartlet e sua equipe talentosa e dedicada decidem os destinos do mundo, enfrentando desafios variados e travelings para lá e para cá, por todos os muitos corredores da Casa Branca.

The West Wing usa a política real como tema ficcional de um jeito ao mesmo tempo informado e dinâmico. O ritmo é o dos travelings, os diálogos disparam para todo lado, e todo o mundo sabe o que tem de dizer, o tempo todo. Essa é a política na ficção, muito melhor e mais organizada do que ela é no mundo real, e por isso mesmo talvez faça tanta falta uma The Planalto Wing no nosso Brasil brasileiro.


Nós temos presidência e temos país. Não temos ainda, e isso é muita pena, uma ficção que se dê ao trabalho de achar um jeito de narrar a nós mesmos. Vai chegar, mas está demorando, e isso é mesmo uma pena.