sábado, 12 de agosto de 2017



12 DE AGOSTO DE 2017
CLÁUDIA LAITANO

Você sabe seduzir um homem? 

O que a cor do seu esmalte diz sobre sua personalidade? Seu melhor amigo daria um bom namorado?

Muito antes de Buzzfeed e Quizur ajudarem a transformar os testes de Facebook em um dos conteúdos mais populares da internet, eram os questionários de revistas femininas que ofereciam as respostas mais rápidas e tranquilizadoras às diferentes formulações da dúvida existencial mais antiga do mundo: ?Quem sou eu??. Testes de revista e, claro, o horóscopo.

Se a astrologia satisfazia os espíritos mais inclinados ao pensamento mágico e ao duvidoso conforto de atribuir nossas características, boas ou más, a forças externas e sobre-humanas, os testes de revista ofereciam a ilusão de que alguém realmente sabia do que estava falando quando, conferidas e somadas todas as respostas, radiografava a sua personalidade.

Mesmo tratando de temas ?adultos? e que nem sempre (ou quase nunca) faziam muito sentido para uma menina de 11 ou 12 anos, os clássicos testes da revista Nova fizeram parte da minha infância. Talvez por isso, sempre associei a disposição para responder questionários em busca de respostas fáceis e aleatórias ? redigidas, muito provavelmente, por alguém que entende tanto de psicologia quanto eu de oboé ? como uma manifestação de ingenuidade, típica daquela fase da vida em que você precisa desesperadamente que alguém diga quem você é e a que tribo pertence. 

A popularidade da nova encarnação dos testes de personalidade na internet mostra que a ingênua era eu. O apetite por esse tipo de brincadeira nas redes sociais sugere que os testes de revistas atendiam a uma necessidade íntima talvez mais complexa do que passar o tempo na sala de espera do dentista.

Assim como ninguém imaginava que tirar a própria foto no espelho do elevador pareceria tão divertido no dia em que todo mundo tivesse uma câmera fotográfica no bolso, a linguagem do jornalismo online e as formas de relacionamento nas redes sociais engendraram o hábito de responder questionários. E, mais importante, a possibilidade de compartilhá-los com os amigos ? recurso que não existia nos tempos dos questionários rasurados na revista velha do dentista.

Os testes, como o Chapéu Seletor do Harry Potter, não apenas nos dizem quem somos, mas a que tribo pertencemos. Por alguns instantes, podemos acreditar que somos parte de uma ?casa?, uma turma, que não apenas nos acolhe, mas nos define ? nem que seja de brincadeirinha.

Divertidos, posados, descartáveis, esses 3x4 dos nossos gostos (?em que cidade do mundo você deveria morar??) , talentos (?você é de Humanas??)e idiossincrasias (?quão brasileiro você é??), além de engraçados, são como selfies da alma contemporânea: olhem para mim, eu sou assim.

Pelo menos por enquanto.

CLÁUDIA LAITANO