quarta-feira, 29 de setembro de 2021


29 DE SETEMBRO DE 2021
MÁRIO CORSO

Insônia

Tostines vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais? Esta questão, conhecida entre os cientistas de boteco como paradoxo Tostines, traz um grande enigma para a humanidade. Entre quem trabalha com saúde mental temos algo parecido: o sujeito está deprimido porque dorme mal, ou dorme mal porque está deprimido?

É uma brincadeira, a gênese da depressão é mais complexa do que problemas noturnos. Porém, há muita verdade nessa frase. Por muito tempo demos pouca atenção ao sono ruim e suas consequências nefastas. Geralmente quem está deprimido dorme mal, criando um ciclo infernal que se retroalimenta.

Não podemos prescindir de um sono satisfatório. Nosso cérebro necessita dele para o bom funcionamento. O exemplo mais claro, no qual vários experimentos já convergiram, é quanto à fixação de memórias: você só aprende e registra se dorme bem.

Do outro lado, se você for torturar alguém - não recomendo -, a maneira mais fácil é privando o supliciado do sono. O sofrimento é garantido e, em pouco tempo, como bônus desse tratamento ao limite do desumano, você obterá um louco.

Essas considerações são só para introduzir um conselho aos insones. Aliás, de insone para insone, eu tendo ao mau sono. É necessário entender que quem está desperto, durante a hora costumeira de dormir, está em um estado alterado de consciência.

Classifica-se a insônia em três tipos: a "inicial", quando demoramos para pegar no sono; a de "manutenção", quando despertamos no meio da noite e custamos a voltar a dormir, e a "terminal", quando acordamos cedo demais. Essa alteração de consciência vale para as três. Ponha um mantra na sua cabeça: durante a insônia você não está completamente acordado; é um estado desperto, mas que compartilha de algumas características do sono.

Não reconhecer esse estado misto, entre acordado e dormindo, dificulta o combate à insônia. A sensação do insone é de hiper-realidade, como se ele estivesse pensando de uma maneira mais aguda, como se fizesse sínteses mais profundas de seus problemas. Por esta razão o insone presta atenção em seus supostos "insights" noturnos. Mas a verdade é outra, seu cérebro está operando com um fundo da lógica dos sonhos: a hipérbole. Tudo nos sonhos é exagerado, levado ao extremo, e isso é replicado na insônia.

Quando o sol chega, o sujeito percebe que seus problemas não são tão grandes e assustadores como pareciam. Portanto, caros insones, não acreditem no que vocês pensam durante a noite. Não é falso, mas é profundamente alterado. Você não está tendo uma revelação, apenas está chapado de sono e se torturando. A lógica não está afetada, mas a trilha sonora anímica é de um pesadelo. A melhor maneira é dizer a si mesmo: pensarei nisso amanhã, agora não tenho clareza. A madrugada é uma péssima conselheira.

MÁRIO CORSO

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