segunda-feira, 15 de novembro de 2021


15 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

O Grêmio tornou-se um caso para faculdades de Administração

Já trabalhei em jornais que, ao passar por uma crise financeira, chamavam um administrador de fora para resolvê-la. Esse administrador chegava e elaborava uma análise impessoal da empresa e de seus funcionários. Em seguida, começava a fazer os cortes. Cortava tudo que considerava desnecessário, supérfluo ou caro demais. Alguns dos profissionais mais antigos e mais bem remunerados eram demitidos, o jornal não se aventurava mais em grandes coberturas ou reportagens por serem muito dispendiosas. Ficavam apenas os jornalistas medianos, sem muito prestígio, mas que custavam pouco.

Essas medidas realmente economizavam um bom dinheiro, mas o produto final da empresa, que era o jornalismo, perdia qualidade. Logo, os leitores e os anunciantes percebiam esse empobrecimento e se afastavam do jornal. Assim, um jornal enxuto e bem administrado acabava morrendo à míngua.

Vi isso acontecer algumas vezes. Vi também ocorrer em outras empresas - restaurantes que economizavam na comida ou no serviço, por exemplo. Se você vai a um restaurante e a comida não está boa, você hesita em voltar. Pode até dar uma segunda chance, mas não dará a terceira. É difícil construir a imagem de um restaurante, é fácil desmontá-la.

Esse é o grande mal dos administradores frios, os homens que chegam para "salvar" um empreendimento. Eles mudam o foco da empresa - não é mais oferecer um bom produto para seus clientes, é ganhar dinheiro e economizar dinheiro.

É claro que a saúde financeira de uma empresa é fundamental para que ela faça bem o que faz. Resultados financeiros não são incompatíveis com produtos de alta qualidade - ao contrário. Só que o remédio que mata a doença não pode matar, também, o paciente.

Isso está sendo sobejamente provado pelo Grêmio de 2021. O provável rebaixamento do time para a segunda divisão é um caso a ser estudado pelas faculdades de Administração. Como é que um clube bem administrado, com alto faturamento e dívidas controladas pode fracassar tanto e tão bisonhamente em seu único objetivo, que é jogar futebol?

Posso escrever a respeito porque faz três anos que alerto sobre a situação. Há três anos aviso que o Grêmio contrata errado, enfraquece seu grupo mês a mês e não sabe o que fazer na sua área mais importante. Chegou um ponto em que sentenciei: "O time do Grêmio é ruim". Está provado que é.

O conjunto monumental de erros de Romildo Bolzan e da sua diretoria mostra não apenas desconhecimento do futebol; mostra a soberba na tomada de decisões. Se não são profissionais da área, por que não se cercaram de especialistas?

Os dois anos de sucesso do time, 2016 e 2017, iludiram seus dirigentes. Eles achavam que sabiam. Achavam que podiam. A ponto de forçarem a mudança de estatuto do clube para reeleger Romildo, que, é de conhecimento público, tinha pretensões políticas elevadas, talvez se tornar governador do Estado ou senador.

Nos primeiros anos da história mais do que centenária do Grêmio, a palavra "foot-ball" estava inscrita no centro do seu escudo. Estava claro para que aquele clube havia sido fundado. Não era para promover quem quer que fosse, não era para ganhar dinheiro pelo dinheiro, era para jogar futebol. O Grêmio se esqueceu da sua razão de existir. Tornou-se um rico fracassado. Um rico infeliz.

DAVID COIMBRA

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