quinta-feira, 25 de novembro de 2021


24 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Massagem nas mãos

Quando estava em tratamento, nos Estados Unidos, tinha de ir de 15 em 15 dias ao grande hospital Dana-Farber para receber uma infusão. Eles botavam o remédio na minha veia, uma espécie de quimioterapia. Um dia, lá estava eu, sentado na poltrona, com a agulha enfiada no braço, quando uma menina chegou à porta do quarto e pediu para entrar. Era uma jovem de, sei lá, é difícil mensurar a idade das mulheres, mas parecia ter uns 19 ou 20 anos. Era negra, magra, tinha cabelos encaracolados e um olhar simpático.

- Bom dia - ela saudou. - Posso fazer massagem nas suas mãos?

Primeiro fiquei surpreso. Nunca ninguém havia me feito essa pergunta. Depois, compreendi que ela era um dos voluntários que trabalhavam no hospital. Aceitei a oferta:

- Claro. Por que não?

Ela sacou um tubo de creme da bolsa e começou a me massagear. Contou-me que era de Nova York e estava estudando numa das dezenas de universidades de Boston. Não lembro agora de outros detalhes da sua história, mas lembro de como me senti relaxado com aquela massagem. Deu-me um sono, um bem-estar... Fiquei muito agradecido a ela.

Nunca mais vi a new yorker depois daquilo, mas, em outra oportunidade, um senhor magro, de cabelos brancos e bigode grisalho, um homem já nos seus 70 anos de idade, assomou à porta do quarto e fez a mesma pergunta. Aceitei de pronto. Enquanto ele massageava minhas mãos, de novo fui acometido por aquela letargia doce, quase que uma véspera do sono.

Havia algo naquilo de massagem nas mãos que me acalmava e me comovia: a moça e o velho eram pessoas desconhecidas, nunca mais os vi. Mas, por um momento, houve entre nós uma intimidade física, um carinho que não apenas me consolou, mas me fez sentir bem. Porque era o toque humano amistoso, sem intenções subsequentes. Aquelas pessoas queriam me dar coisas boas não havendo, com isso, o menor interesse por parte delas. Eram voluntárias anônimas, não ganhavam nada com seu gesto, a não ser o prazer de ter feito o bem a outro ser humano.

Nós somos capazes disso também. Não estamos aqui só para parecer maiores ou melhores do que os nossos semelhantes. Não estamos aqui só para julgar os outros. Alguns passam uma temporada debaixo do sol para tornar a vida mais fácil. Esses são o verdadeiro sal da Terra. Um ponto a favor da Humanidade. Nem tudo está perdido.

DAVID COIMBRA

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