sexta-feira, 19 de novembro de 2021


 

A volta ao mundo com Anthony Bourdain

Volta ao mundo: um guia irreverente (Editora Intrínseca, 464 páginas, R$ 89,90, tradução de Lívia de Almeida e ilustrações de Wesley Allsbrook), de Anthony Bourdain e Laurie Woolever, é, em síntese e acima de tudo, literalmente um guia para viajar ao redor do globo, trazendo aspectos da culinária local e das história das cidades, além de dicas sobre transporte e hospedagem, de quem desbravou o mundo como ninguém.
Bourdain, chef, apresentador de TV e viajante incansável, escreveu vários clássicos sobre culinária como Cozinha confidencial: uma aventura nas entranhas da culinária e celebrizou-se pelas séries Fazendo escala; Sem reservas e Lugares desconhecidos, entre outras atividades. Laurie Woolever, escritora e editora, uma década trabalhando ao lado de Bourdain, foi responsável pelos títulos publicados pelo selo Anthony Bourdain Books e escreveu sobre viagens e gastronomia para o The New York Times, GO e Food and Wine, entre outros.
Antes de falecer em 2018, Bourdain esboçou o projeto destas memórias afetivas com Laurie, que tomou para si a missão de publicar esse guia prático e divertido, com toques de Bourdain sobre países, comes, bebes, lugares inusitados e histórias deliciosas de quem tinha uma curiosidade realmente implacável.
No capítulo dedicado ao Brasil, o autor fala de suas impressões sobre a caipirinha, o queijo coalho e o acarajé quando visitou Salvador. Os parentes e amigos apresentaram seus comentários sobre uma viagem de carro a Nova Jersey e um tour proposto pelo produtor Steve Albini, do Nirvana, sobre como comer gastando pouco em Chicago.
Neste momento feliz em que as fronteiras voltam a se abrir e o turismo começa a retornar, Volta ao mundo é um excelente ponto de partida para montar um roteiro, buscar novas prioridades e destinos, viajar, comer e beber bem por aí, sempre atrás daquela felicidade que só costuma aparecer quando se coloca o pé na estrada.

Caymmi, Quintana, o mar e outros temas

Consta que o grande Dorival Caymmi, alguns anos antes de morrer, aos 94 anos, em 2008, costumava ficar horas sentado, em silêncio, contemplando o mar do Rio de Janeiro. Caymmi cantou o mar como poucos, especialmente o mar da mágica Bahia, onde nasceu.

Acho que daqui a alguns anos vou seguir o exemplo de Caymmi. Por enquanto fico algum tempo fitando o vai e vem, o eterno e milenar encontro das ondas com a praia e seu retorno infindável ao mar imenso. O oceano sabiamente alterna luz e sombra, silêncios e sons, presente e passado, profundidade e superfície e nos mostra que as águas, as ondas, o tempo e o vento e as imensas riquezas dos mares estão muito acima das grandezas e pequenezas dos nossos poucos e rápidos dias nesta passagem pelo planeta. O mar nos convida a pensar sobre o que realmente interessa na vida, especialmente nesses momentos de tempestades várias que vivemos.

Falando em tempestades várias e da "questão social", vale lembrar Mario Quintana, imortal do povo e presença nas mentes e bocas de várias e várias gerações. "Eu nada entendo da questão social/ Eu faço parte dela, simplesmente.../ E sei apenas do meu próprio mal,/ Que não é bem o mal de toda gente." Os versos do poeta alegretense retratam o que muitos brasileiros, atônitos, sentem hoje diante de tantas crises e de tantos problemas seculares brasileiros. Está complicado entender estas ondas do mar da política e as nuvens dos céus que na maior parte do tempo não são translúcidos como gostam os brigadeiros.

Mas é preciso seguir sendo, brasileiramente, profissional da esperança, torcendo pela vacina, pela retomada da economia e por diálogos e soluções que realmente interessem ao bem coletivo. Como diz o outro, é preciso observar a marcha dos acontecimentos e seguir apoiando soluções democráticas, liberdade, saúde, educação, cultura e caminhos que nos levem para um futuro decente. Totalitarismos, individualismos e fanatismos de qualquer tipo não devem prosperar. As histórias de muitos países demonstram que o melhor é a interminável e, por vezes, difícil construção da democracia. A democracia é um "work in progress", obra humana que nunca termina e que sempre pode e deve ser aperfeiçoada.

No momento está difícil, quase impossível, opinar com segurança sobre política, economia e rumos sociais. O que se pode é contribuir, individual e coletivamente, para que as coisas melhorem. Com mais paciência ainda, serenidade, diálogo, boa vontade e respeito ao outro, quem sabe a gente consiga iluminar o túnel.

Não é com violência, radicalização, individualismo exacerbado e destempero físico e verbal que vamos chegar lá. Violência gera violência, gentileza gera gentileza. Isso é mais velho que a Sé de Braga ou que andar a pé, mas permanece válido. São Francisco de Assis, Martin Luther King, Gandhi, Madre Teresa, Mandela e outros mostraram que os caminhos da paz são possíveis, desde que a gente procure tratar os outros como a gente gosta de ser tratado.

A propósito...

Nós, cidadãos, devemos cumprir com nossa parte. E devemos lutar por expressão livre das pessoas e da imprensa. Sem liberdade de imprensa não temos democracia. Tomara que a imprensa, em geral, volte a cumprir sua histórica e digna tarefa de "gate keeper", porteira que filtra informações, dá as várias versões, analisa, opina, comenta e interpreta o que anda por aí, com competência e dignidade. Tomara que as fake news tenham pernas curtas, como sempre teve a mentira. O tempo e o povo são os melhores juízes. O mar segue cumprindo sua tarefa, mesmo sem o olhar doce de Caymmi, Mario Quintana faz versos cada vez melhores e nós precisamos acreditar que a vida é bela e que só resta viver. 

Lançamentos

  • As noivas fantasmas & Outros Casos (L&PM Editores, 176 páginas, R$ 45,90), ilustrado com desenhos e fotos, apresenta 46 textos inéditos de Sergio Faraco, um de nossos mais celebrados contistas. Faraco fala de Marlene Dietrich ao vivo em Moscou, da história da invenção do futebol e do convívio com Mario Quintana e Erico Verissimo, entre outras preciosidades.
  • Histórias de Marketing e Vendas - As lições que a vida me ensinou (Leitura XXI, 152 páginas, R$ 35,00), de Heitor Bergamini, economista, ex-executivo de grandes corporações e consultor, traz sua bela e longa trajetória, valiosas lições profissionais sobre marketing e vendas e reflexões sobre fazer amigos e qualidade humana nos relacionamentos.
  • Bolita de gude (Libretos, 36 páginas, R$ 32,00), do consagrado jornalista e escritor Rafael Guimaraens, com modernas ilustrações de Moa Gutterres e design gráfico de Clô Barcellos, traz a história de Gabriel, No fim de semana com o vô, está com um dilema. O vô ensina o neto a jogar bulita, conta um episódio de infância e aí Gabriel cria coragem para enfrentar o problema.

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