segunda-feira, 1 de julho de 2024


01 DE JULHO DE 2024

Um fantástico medo de tudo

A musa da temporada é magrela, tem os olhos esbugalhados e fala sem parar. Todo mundo já topou com essa peste em algum momento, mas muitos experimentam uma relação de coabitação compulsória permanente. É o caso de Riley, personagem de Divertida Mente 2, a animação da Pixar que todos os adultos deveriam assistir. Se no primeiro Divertida Mente (2015) Riley lidava com sentimentos como Raiva e Nojinho, agora, aos 13, ela é obrigada a conviver com a irrefreável Ansiedade.

A Ansiedade não é uma vilã descarada. Na verdade, ela se vê como uma espécie de rede de segurança contra todos os perigos do mundo, reais ou imaginários - do apocalipse nuclear a um vexame no Instagram. Enquanto o cérebro acelera rumo ao modo pânico total, o corpo interpreta esse caos emocional como um perigo real. O problema pode ser um gatinho, mas para a Ansiedade é sempre como se um leão estivesse prestes a dar o bote.

Divertida Mente 2 estreou poucas semanas antes do lançamento de A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de Transtornos Mentais, previsto para chegar às livrarias em 12 de julho. Há mais de três meses na lista de best-sellers dos EUA, o livro do psicólogo social Jonathan Haidt esquentou ainda mais a conversa sobre o papel das redes sociais no aumento do sofrimento mental, principalmente entre os jovens nascidos entre 1995 e 2010.

Para Haidt, a primeira geração a entrar na puberdade com um smartphone na mão encarou uma espécie de tempestade perfeita: proteção demais na rua, proteção de menos na rede. Essa combinação inédita não apenas bagunçou as etapas naturais do amadurecimento emocional como substituiu experiências importantes de interação e socialização por atividades virtuais solitárias - e viciantes. "É como se as crianças estivessem assistindo a um vídeo que ensina a caminhar, em vez de irem para o chão para aprender a cair e levantar", compara o psicólogo.

O autor defende quatro providências imediatas para interromper o ciclo de adoecimento: 1) Smartphone só no Ensino Médio, 2) Rede social só depois dos 16 anos, 3) Escolas sem celular e 4) Mais independência e autonomia para brincar na rua, com amigos e joelhos ralados de verdade.

Resta saber se os pais serão adultos o suficiente para dar uma resposta a esse problema de forma coletiva, como sociedade, em vez de continuarem perdendo a guerra, isolados, dentro de casa.

CLAUDIA LAITANO

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