01
de julho de 2013 | N° 17478
L.F.
VERISSIMO
A
alternativa
Envelhecer
é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu
e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é de que existir
é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro.
Muitos
acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais
barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isto,
vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de
experimentar a alternativa.
Mas
há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já
passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a
alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder
mais alto e armado.
Tivemos
20 anos dessa alternativa, e quem tem saudade dela precisa ser constantemente
lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era
investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia a
presidência passando de general para general sem consulta popular, repressão
criminosa à divergência, uma política econômica subserviente e um “milagre”
econômico enganador.
Quem
viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas e
divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento
militar”, que decidia nossas vidas.
Ao
contrário da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição
aprendida. E se para garantir que a alternativa não se repita é preciso cuidar
para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja. Melhor uma
democracia imperfeita do que uma ordem falsa mas incontestável.
Da
próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia
de Brasília enojá-lo, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses
dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos,
respire fundo e pense na alternativa.
Sequer
pensar que a alternativa seria preferível – como tem gente pensando – equivale
a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida – e o voto.