quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015


25 de fevereiro de 2015 | N° 18084
FÁBIO PRIKLADNICKI

HOMENS FEMINISTAS

Sempre que me declaro simpatizante do feminismo, meus amigos me olham com certo enfado, como se eu estivesse insistindo em uma provocaçãozinha barata. Você perguntará: pode um homem feminista? Respondo que não só pode como deve.

Sei que algumas ativistas têm um pé atrás com homens que se dizem feministas, como se quiséssemos roubar o protagonismo de uma luta que é, justamente, delas. Não é minha intenção: tudo o que aprendi sobre o assunto foi lendo e ouvindo mulheres. Uma delas é a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, que anota no altamente recomendado livro Sejamos Todos Feministas (Companhia das Letras): “Perdemos muito tempo ensinando as meninas a se preocupar com o que os meninos pensam delas. Mas o oposto não acontece”.

Testemunhamos constantes ataques ao feminismo baseados em uma ideia estereotipada e, acima de tudo, equivocada. Seus críticos querem nos fazer crer que se trata de um pensamento contra os homens, que prega a superioridade das mulheres e é muito perigoso. Faz parte dessa lógica perversa a acusação de que um homem simpatizante do feminismo só pode ter sofrido uma lavagem cerebral ou está jogando para a torcida.

Nada disso é verdade. O feminismo é um exercício saudável de repensar a cultura para questionar por que as mulheres continuam sendo responsabilizadas por estupros e outros abusos cometidos por homens, por que ganham um salário menor mesmo exercendo a mesma função do que os homens ou por que conhecemos historicamente menos escritoras e pensadoras mulheres, entre várias outras coisas. Eu não entendo como alguém hoje pode não ser feminista.


Não significa advogar que mulheres e homens sejam biológica ou culturalmente iguais: pelo contrário, é o caso de celebrar as diferenças. Mas desejamos dias melhores em que as diferenças tenham igualdade de direitos e oportunidades. Por isso, precisamos de mais mulheres e homens feministas.