sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Jaime Cimenti

Fantasia de general

Fazia séculos que o Carnaval não chegava em tão boa hora. Boa hora? Bom, não vamos polemizar, é sexta-feira, a folia está só começando, vá lá. Vamos dar um tempo nesse noticiário catastrófico, mudar um pouco esse assunto de corrupção, furto continuado, roubalheira geral, mascarados etc.

Melhor ler, ouvir e assistir as ondas do mar, o sol, as estrelas, a lua, o nascer do dia e o entardecer. Nesses dias de carná, melhor ouvir o som do silêncio. Olhe para o mar, pense só nele, nas ondas, nas espumas, no infinito. Se concentre. Depois feche os olhos e imagine, só imagine o mar e tudo mais. Bom, aí depois tira tudo da imaginação.

Aí vais pensar em nada, vais entrar em estado de consciência pura. Eu sei, não é fácil, mas vale tentar.

De mais a mais, a presidente Dilma disse que só vai falar depois do Carnaval. Medida sensata, tranquilizadora. Boas ou más notícias ficam para depois. No carná, só notícia e coisa boa. Se bem que esse 2015 até começou antes do tríduo momesco e do jeito que a gente está vendo. Será que as únicas certezas com relação ao futuro são a morte e pagar impostos. Melhor não pensar nisso, né?

Falando de coisa séria, carnavalesca, acho que esse ano uma boa ideia para fantasia é a de general ou generala anarquista-comuna-liberal. Coturnos pretos nos pés, bem engraxados, escovados e lustrados por algum recruta bem disciplinado. Tipo espelho. Calça militar, mais ortodoxa que caixa de Maizena, com listras.

Bom, o cinto pode ser vermelho. Uma camiseta com as cores do arco-íris vai cair bem. Para quem estiver malhado, com tudo em cima, pode ser regata. O chapéu pode ser liberal, tipo assim de livre iniciativa do folião. Pode ser em forma de boné, quepe, capacete etc. Maquiagem, corte de cabelo e outros detalhes da produção ficam por conta da liberdade anárquica de cada um, que não fica bem determinar tudo para o cidadão. Depois da vida, a liberdade é o bem maior da galera.

A fantasia é uma homenagem aos nossos 28 carnavalescos partidos da Câmara Federal e pretende passar uma mensagem de união ao nosso Brasil, que no momento enfrenta algumas divisões estressantes. Não podemos nos dispersar, dizia o imortal Tancredo. Se a gente não se Raoni, a gente se Sting, dizia o povo, sempre sábio. Pois é, a fantasia de general anarquista-comuna-liberal é uma tentativa de cristalizar nossos ideais, nossos sonhos, aspirações e projetos para um mundo melhor. Claro que são bem-vindas sugestões, desde que visem o bem comum, o interesse coletivo e nossa formação como Nação altamente desenvolvida. Cartas e "imeis" para a redação.

Precisamos unir a disciplina e o rigor com a alegria, o humor e a anarquia. Precisamos contemplar tudo e todos, num país continente. Sei lá, nessa hora podemos pensar até em carnavalizar geral, federal. Por que não?

A propósito...


Dizem que na Veneza antiga, na Itália, nos três dias de Carnaval não vigorava a lei que punia o adultério. A zorra deve ter sido geral, pois veio uma lei depois que dizia que não havia crime de adultério durante o Carnaval em Veneza, desde que os infratores envolvidos estivessem usando máscaras carnavalescas. Então, se você aí, meu caro, quiser pular fora do seu cercadinho, aqui no nosso carná, quem sabe usa uma máscara. Sempre tem umas máscaras com as caras das "otoridades" que ainda estão no poder ou que já baixaram para a planície, onde estamos nós, os reles mortais. Bom, usa a máscara que você quiser, de preferência diferente dessas do dia a dia, que todo mundo já conhece.