terça-feira, 18 de outubro de 2022


18 DE OUTUBRO DE 2022
NÍLSON SOUZA

Guerra de insultos

Só mesmo a cordialidade, no sentido que o historiador Sérgio Buarque de Holanda quis dar à palavra quando escreveu Raízes do Brasil - a imposição do coração sobre a razão -, explica essa verdadeira guerra civil de imprecações em que se transformou o processo eleitoral em nosso país. Os insultos saltaram das redes sociais para o horário eleitoral gratuito e para os debates na mídia entre os postulantes aos principais cargos de comando no país. Com lideranças tão destrambelhadas, é até de admirar que os confrontos físicos e armados entre seus seguidores mais radicais estejam reduzidos a poucos casos, ainda que alguns extremamente graves.

Vulgarizou-se de tal forma a troca de ofensas na TV que nem dá mais tempo de tirar as crianças da sala. Quando menos se espera, aparece a despropaganda eleitoral de um candidato com mais acusações infamantes ao adversário do que com suas propostas para governar. Virou vale-tudo: um chama o outro de bandido, o outro devolve com mais cobras, lagartos e outros bichos peçonhentos.

É difícil de entender como chegamos a esse ponto. E mais ainda de imaginar como sairemos desse embate fratricida para uma convivência efetivamente cordial, na acepção que os mais generosos (ou mais ingênuos) preferem atribuir à palavra.

Para fugir um pouco da baixaria, lembro que neste 18 de outubro celebra-se o Dia do Pintor. Em homenagem a todos os que pintam o 7, o 8, o 9 e outros números, além de letras, paisagens, naturezas vivas e mortas, paredes, prédios, painéis e tudo o mais que as tintas e os traços da imaginação transformam em arte e beleza, reproduzo e adapto aqui parte de um conhecido texto de autor anônimo sobre aquele célebre pintor da infância de todos nós, falantes da língua portuguesa, talvez o único idioma em que se pode escrever uma crônica apenas com a letra P.

"Pedro Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém, pediu para parar porque preferiu pintar panfletos políticos. Pobre Pedro, pensou produzir peças primorosas. Pediram-lhe pedras, pregos, projéteis, palavrões, porcarias. Percebeu perigo. Pediu permissão para parar. Penou profundas privações. Passou. Preocupado, preferiu partir para Portugal para permanecer praticando pinturas para pessoas ponderadas."

PS: Prezado próximo presidente, promova paz pelo país!

 NÍLSON SOUZA

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