sexta-feira, 28 de outubro de 2022


Busca de autenticidade e sentido no mundo digital

Jaime Cimenti
Estamos todos estonteados em meio a sons, palavras e imagens desse nesse mundo tecnológico. A casa de doces (Editora Intrínseca, R$ 79,90, 384 páginas, tradução de Débora Landsberg) é o novo romance da consagrada escritora Jennifer Egan, que recebeu os prestigiados Prêmios Pulitzer e National Book Critics Circle Award pelo grande romance best-seller A visita cruel do tempo, lançado no Brasil em 2012 pela Editora Intrínseca. A casa de doces trata justamente da busca de autenticidade e sentido neste universo high tech no qual estamos mergulhados até o pescoço.
A casa de doces está sendo considerada uma obra 'irmã' do romance premiado, que tornou a autora uma das mais célebres da atualidade. A narrativa gira em torno de Bix Bouton, empresário de sucesso, conhecido como um semideus da tecnologia, que ganhou muito dinheiro no passado ao se apropriar das instigantes ideias contidas no livro de uma antropóloga respeitada.
Aos quarenta anos, exausto e desesperado por uma nova inspiração, vai, disfarçado, em uma reunião de professores em um prédio próximo da Universidade de Columbia, em Nova York. Lá descobre que um dos presentes está pesquisando a "externalização" da memória humana. Em 2020 Bix criou uma ferramenta nova, Domine seu Inconsciente, que acessa todas as memórias dos humanos e permite compartilhamento em troca do acesso às lembranças de outras pessoas.
Em uma teia fascinante, acompanhamos os impactos e desdobramentos dessa assustadora tecnologia na vida de pessoas comuns, cujos caminhos se cruzam em diferentes momentos ao longo de décadas. Jennifer manipula com precisão vozes e estilos variados e retrata um mundo que não está muito longe do nosso. Um mundo marcado pela vigilância digital e pela constante representação nas interações em redes sociais.
 Lançamentos
Vença! com Alexandre de Bem (Buqui, 152 páginas, R$ 45,00), do administrador de empresas e fundador das Lojas De Bem, com orientações objetivas e 160 frases de amigos, busca gestão empresarial feliz e simplificada. "Você encontrará dicas preciosas em administração, direto da fonte: a experiência", diz Lírio A. Parisotto, empreendedor, na apresentação.
O livro dos cinco anéis (Avis Rara, 96 páginas, R$ 29,90), do samurai japonês Miyamoto Musashi (1584-1645), é clássico milenar da estratégia, necessário para todas as etapas da vida. Percorrendo o caminho que vai do Japão antigo ao século XXI, o leitor poderá aplicar os princípios atemporais do Mestre e vencer.
Almoço - Conversa com Eliane Brum (Arquipélago, 80 páginas, R$ 45,00) traz textos da premiadíssima jornalista e escritora Eliane Brum e quadrinhos do talentoso Pablito Aguiar, retratando a casa de Eliane em Altamira-Pará, sua vida e seu rico universo, que envolve natureza, criatividade, delicadeza e força.
 Os Brasis do futuro
Brasil crioulo, caboclo, caipira, sertanejo e sulino, somos muitos e diversos brasileiros e Brasis, velhos e novos, rurais e urbanos, interioranos e litorâneos. Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Euclides de Cunha, Roberto da Matta, Hélio Silva, Laurentino Gomes, Jorge Caldeira, Caio Prado Jr., Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, entre muitos outros, escreveram obras seminais para entender, um pouco ao menos, esse Brasil que não é para principiantes, como disse Tom Jobim. João Cabral de Melo Neto disse que o parto do Brasil é demorado. Somos eternos profissionais da esperança e da paciência. Já fomos mais 'cordiais' e pacíficos. Uns já têm saudades do futuro que ainda não apareceu.
Neste Bicentenário do Brasil (1822-2022) não tivemos muitas comemorações e nem paramos muito para pensar, refletir e agir sobre nosso passado, para projetar o futuro. Alguém disse - Pedro Malan ou Gustavo Loyola? - que, no Brasil, até o passado é incerto. Além de nosso futuro duvidoso, a autoria da frase também é incerta e duvidosa.
O País do Futuro e Seu Destino (L&PM Editores, 336 páginas, R$ 78,90), obra organizada por João Carlos Brum Torres, professor-doutor de Filosofia da Ufrgs e ex-Secretario de Estado da Coordenação e Planejamento do Estado, apresenta ensaios do autor e de Carlos Paiva, Cícero Araújo, Fabian Scholze Domingues, Juremir Machado da Silva, Leonardo Belinelli, Lourival Holanda, Luís Augusto Fischer, Pedro Fonseca, Renato Steckert de Oliveira e Zander Navarro sobre nosso Bicentenário.
Os textos falam de veleidades libertárias no Brasil; jornalismo, escravidão e política na independência; José Bonifácio; identidade do Brasil; desejo de futuro na literatura brasileira; independência e projeto de desenvolvimento; Lei de Terras de 1850 e o advento do capitalismo brasileiro; projeto econômico da ditadura militar e longevidade dos anos de chumbo; a esquerda no poder: apogeu e declínio de um experimento constitucional (2002-2016); e o mundo rural: o novo emerge sobre as raízes do passado.
Depois desses primeiros duzentos anos, temos alguns avanços sociais, científicos, culturais, artísticos, econômicos e políticos para comemorar. Não tantos quanto gostaríamos. Devemos dar mais atenção à data e valorizar momentos como o Plano Real, talvez nosso acontecimento histórico mais importante, ocorrido no governo Itamar Franco, que merece mais lembrança, pelos exemplos deixados. Entre sístoles e diástoles, aberturas e fechamentos, planos econômicos, guerra e paz e o escambau, a gente vai levando. O País do Futuro e Seu Destino, com análises e reflexões percucientes de seus importantes colaboradores, é um protesto contra imediatismos e convite para pensar sobre um projeto nacional e sobre um País que deixe de ser uma eterna possibilidade do futuro para tornar-se a nação do presente que tanto sonhamos. Vem em boa hora essa ótima coletânea de ensaios que trata de literatura, jornalismo, economia, agricultura, sociologia e filosofia.
 A propósito...
Depois das eleições, seja qual for o resultado, o esforço maior de todos os brasileiros deverá ser o de conseguir pensar em um projeto nacional e conseguir cultivar nossos traços de união, nossas melhores qualidades e pensar que somente com muito diálogo, paciência, harmonia e união e respeito aos legítimos interesses coletivos é que vamos construir uma nação democrática, desenvolvida social, cultural, política e economicamente. Para isso, é preciso pensar e agir sobre ideias como as que estão em O País do Futuro e Seu Destino. Sem lembrar e respeitar o passado para construir o futuro, a tarefa de erguer uma Nação, que já é bem difícil, pode tornar-se impossível, e aí seguiremos como o eterno país da semana que vem.

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