segunda-feira, 31 de outubro de 2022


CARPINEJAR

O que decidiu a eleição

As armas que o presidente Jair Bolsonaro tanto defendeu ao longo do seu mandato decidiram a eleição contra ele. A loucura bélica de seus aliados na última semana roubou o prestígio da reta final, formando um ambiente de insegurança e medo nas vésperas da eleição.

Primeiro, foi o advogado Roberto Jefferson, ex-presidente do PTB, que resistiu à prisão da Polícia Federal com granadas e fuzis. Já era um incidente infeliz o suficiente para manchar a perseguição de votos pela reeleição.

Não bastando, uma de suas mais fervorosas seguidoras, a deputada federal reeleita Carla Zambelli, perseguiu um homem negro na tarde de sábado, no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo. Chegou a invadir uma lanchonete apontando uma arma, à luz do dia. Ela diz ter sido empurrada, mas vídeos revelam que ela tropeçou sozinha. Ela diz ter sido cuspida, mas vídeos registram unicamente um bate-boca.

Caçar o jornalista articulado Luan Araújo, sem antecedentes criminais, sem nenhuma agressão física da parte dele, sugere uma manifestação de racismo. Havia dois homens que defendiam o candidato Lula na hora da discussão com o grupo de seguranças da deputada - um branco e um negro. E ela foi atrás do negro pela badalada Alameda Lorena.

Como se fosse uma policial, ela tentou render o jornalista dentro de um comércio onde ele buscava refúgio, no meio de uma multidão de frequentadores. Poderia ter provocado uma tragédia do mais alto grau de arbitrariedade.

Existe uma série de ilegalidades na conduta desproporcional da parlamentar, que talvez até implique cassação. Entre elas, infringiu resolução do TSE que proíbe o porte de arma de fogo 24 horas antes das eleições.

Tudo respingou em Bolsonaro na conversão derradeira dos indecisos. O esforço de equilíbrio e seriedade que demonstrou nos últimos debates não resistiu aos descalabros de seus apoiadores, amplamente divulgados na "boca de urna" das redes sociais e emissoras.

O episódio lembra o atentado da Rua Tonelero, em que capanga de Getúlio Vargas atirou contra o jornalista e político Carlos Lacerda, na madrugada do dia 5 de agosto de 1954. Lacerda, um dos baluartes da oposição getulista, foi ferido no pé. Diante do escândalo, Vargas, que dizia desconhecer o ataque, cometeu suicídio dezenove dias depois.

O tiro no pé, expressão popular originada desse fato, foi desferido no momento pelos correligionários bolsonaristas, atingindo a moralidade do programa eleitoral do presidente e seu projeto de armar as famílias brasileiras.

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