08
de junho de 2014 | N° 17822
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Um jeans nunca sai
barato
Não
tema quando sua mulher subir numa balança. A balança é de menos. A balança não
é de nada.
Se
ela pisar numa farmácia e verificar seu peso, não sofra por antecipação, não se
amedronte com o resultado. Talvez sua esposa saia rindo, diga que não confia na
fidelidade da máquina e que não se preocupará à toa. A ordem das coisas e da
casa permanecerá inalterada.
Mas
fique tomado de toda a cautela quando ela provar jeans em uma loja.
Não
pense que ela está comprando apenas mais uma peça, que ela apenas desejava uma
opção escura com cintura alta ou intermediária, que é uma saída de praxe ao
shopping. Não entre de patinho nesta conversa furada de provador.
Verá
o Apocalipse sem bainhas. Sua tranquilidade pode terminar. Seu mundo pode ruir.
A
calça é a real balança da mulher. É a única medição em que ela confia cegamente.
É
não entrar em seu número, é não fechar o zíper apesar dos pulinhos, é não
entender a falta abrupta de sintonia entre as coxas e a bunda, é perceber os
gomos saltando das pernas, que sua esposa irá enlouquecer. Não calará mais a
boca dali por diante com dietas do suco, da proteína, do chá verde, do miojo,
dos pontos, da sopa, da lua, do sol, de Beverly Hills, do bairro Cavalhada.
Abandonará
o shopping com uma longa lista de cortes e restrições, num enxugamento
alimentar jamais visto em sua residência.
Acabou
o romance entre vocês. Acabou suas mordomias, suas escapadas da rotina a dois,
sua pizza pepperoni.
Ela
vai cancelar todos os possíveis jantares, vai anular qualquer cinema durante o
mês para não comer pipoca e tomar refrigerante, vai suspender a viagem
programada para Gramado, vai acabar com os passeios noturnos pelos bares (já
que não deve beber).
Ou
seja, ela deixará de viver. E por causa do maldito jeans que não serviu nela,
você também deixará de viver.
Ninguém
engorda sozinho. E, preste atenção, ninguém emagrece sozinho.
O
preço de morar junto está embutido na calça.