quarta-feira, 27 de junho de 2018


27 DE JUNHO DE 2018
LIVRO

Um antídoto contra o pessimismo


Em 2012, o jornalista e escritor Ruy Castro sonhou que levava seu pai para um passeio por áreas do Rio de Janeiro que estavam sendo restauradas. Assim, seu pai, que havia morrido em 1983, poderia rever a beleza arquitetônica da capital fluminense. O sonho virou crônica, as crônicas viraram livro.

O autor lança A Arte de Querer Bem, volume que reúne 101 textos publicados entre 2008 e 2017 na coluna Rio do jornal Folha de S.Paulo, espaço que ocupa quatro vezes por semana. O tom afetuoso da crônica sobre o pai prevalece ao longo das 256 páginas. Ruy avança no contrafluxo. São tempos de desencanto com a realidade do país, como indica recente pesquisa do Datafolha. Segundo o instituto, 62% dos jovens deixariam o Brasil se pudessem.

A Arte de Querer Bem é um antídoto contra o pessimismo.

- Quero acreditar que as coisas vão dar certo - afirma o autor de 70 anos.

Ele toma como uma das referências As Amargas, Não..., livro de memórias do poeta e jornalista gaúcho Álvaro Moreyra (1888 - 1964), obra que marcou sua geração. O título virou bordão. Ao chegar à casa do também jornalista Ivan Lessa (1935 - 2012), em Londres, Ruy costumava ser recebido pela exclamação do amigo: "As amargas, não". Lessa não queria saber das más notícias do Brasil.

- Existe essa intenção de se desligar desse contexto desagradável que nos rodeia - diz Castro

As crônicas foram selecionadas pelo próprio Ruy Castro e organizadas em blocos por Pascoal Soto, editor do selo Estação Brasil. Na seção Meus Monstros, o autor lembra mestres da música, como Dorival Caymmi, Johnny Alf e Billy Blanco. Não são homenagens previsíveis, tampouco solenes. Em uma das crônicas sobre Tom Jobim, recorda de uma aptidão do compositor, o domínio da arte de piar - isso mesmo, piar como os pássaros. No texto Triângulo da Alegria, que integra a seção Na Companhia dos Amigos, faz um tributo a seu taxista favorito.

Há ainda blocos de crônicas dedicadas ao jornalismo e à literatura, ao Rio e ao futebol, entre outros temas. Em Enxurrada de Amor, o flamenguista narra uma visita ao Maracanã com Zico, maior ídolo da história do time. O escritor fala das crônicas como um refresco, um alívio. Nesse gênero, pode adotar abertamente a subjetividade enquanto um estilo mais impessoal se impõe nas biografias e nas reconstituições históricas. Nessa seara, aliás, prepara para 2019 um livro sobre a capital fluminense nos anos 1920.

Folhapress