terça-feira, 19 de julho de 2022


19 DE JULHO DE 2022
NÍLSON SOUZA

A bandeira quase proibida

Era só o que faltava. No momento em que os brasileiros mais necessitam do seu símbolo augusto da paz, pois os ânimos nunca estiveram tão exaltados por aqui, uma juíza cogitou proibir o uso e a exposição da bandeira nacional durante o período eleitoral por considerá-la propaganda de determinada facção política.

Embora a ideia já tenha sido sepultada por decisão colegiada do tribunal, a questão levantada pela magistrada continua merecendo atenção, pois evidencia o desconforto de muitos brasileiros com a evidente tentativa de apropriação dos símbolos da pátria por grupos que disputam o poder. Trata-se de uma estratégia bem conhecida: ao expor ostensivamente as cores nacionais em suas manifestações, lideranças políticas, partidos de viés nacionalista e seus seguidores procuram transmitir a visão de que seus opositores são menos patriotas e menos brasileiros.

Ora, o Brasil não é só verde, anil e amarelo. Como diz a canção de Marisa Monte e Carlinhos Brown, o Brasil também é cor de rosa e carvão. E branco, ouso acrescentar, pois entendo que precisamos levantar uma bandeira branca nesta guerra política fratricida que já está provocando tiroteios e mortes.

Além disso, nossa linda bandeira merece mais respeito. Linda? Até sobre isso há controvérsias. Há uma década, se bem me lembro, um professor neozelandês provocou indignação por aqui ao elencar no seu site as melhores e as piores bandeiras do mundo, considerando apenas o valor estético. E a bandeira brasileira acabou sendo classificada como a mais feia entre todas as representativas de nações independentes.

Na visão do especialista, nossas cores não combinam e a inscrição de frases em bandeiras seria um recurso de mau gosto. Referia-se ao lema positivista Ordem e Progresso, extraído de uma citação do filósofo francês Augusto Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Ainda que o amor tenha ficado de fora do lema nacional, na prática sempre podemos substituí-lo por tolerância - que até pode não ser uma palavra muito bonita, mas é multicolor e expressa bem o espírito pacífico e hospitaleiro da maioria da nossa população.

Para encerrar, quero dizer que, independentemente de questões estéticas, continuo achando nossa bandeira linda. Principalmente porque é nossa. E "nossa" significa de todos os brasileiros, aí incluídos os que pretendem sua exclusividade, os que se constrangem de ostentá-la e os que a amam acima de conotações políticas.

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário:

Postar um comentário