sexta-feira, 12 de agosto de 2022


12 DE AGOSTO DE 2022
ARTIGOS

12 DE AGOSTO: MEMÓRIA E LUTA

A morte é um vazio que vai se enchendo de outros vazios até ser completamente morta; é objeto, mas também relação, porque se morre no olhar e na consciência de alguém. Por isso, morrer é um processo em direção ao esquecimento. Enquanto a palavra designar quem se ausentou, o morto segue sua biografia. Há, nesse sentido, mortos que permanecem. Os que morreram lutando, por exemplo, tendem a ficar mais tempo, porque viram bandeiras, hinos, poemas. Há os que se alongam em inscrições pelos muros e os que viram placas, estátuas, viadutos. Os mortos nos rodeiam e merecem atenção.

Margarida Alves foi a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Trabalhadores Rurais na Paraíba. Ali, moveu centenas de ações trabalhistas contra os usineiros, por carteira assinada, jornada de oito horas, férias e 13º salário. Foi morta a tiros por jagunços em 12 de agosto de 1983. Coube a outra mulher, a então deputada Rose de Freitas (PMDB/ES), apresentar um projeto indicando essa data como Dia Nacional dos Direitos Humanos.

Segundo o relatório da Global Witness, o Brasil é um dos países onde mais se mata ativistas dos direitos humanos. A nossa frente nessa macabra lista, apenas Colômbia, México e Filipinas. Dados da ONU mostraram que, em apenas quatro anos (2015-2019), 1.323 defensores de direitos humanos foram assassinados no mundo, sendo 174 deles no Brasil.

Neste dia 12 de agosto, mencionamos os nomes dos defensores dos direitos humanos que tombaram, sobretudo para compartilhar a esperança do ideal mais generoso que a humanidade já construiu. Dessa forma, transformamos a memória em luta. Por esse caminho, por exemplo, Margarida Alves virou "A Marcha das Margaridas", a maior mobilização de mulheres na América Latina; o canto do indigenista Bruno Pereira no idioma kanamari, que fala de uma mãe arara chamando seus filhos, se transformou em um hino que emociona as pessoas que não adoeceram pelo ódio; e Marielle Franco, assassinada por milicianos, é uma inspiração para milhões e espelho para meninas negras em todo o mundo.

Neste dia 12, honramos os nomes de nossos mártires e nos fortalecemos com eles.

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