terça-feira, 1 de novembro de 2022


NÍLSON SOUZA

As cores da paz

Saiu da cabeça prodigiosa do baiano Carlinhos Brown uma letra de música que bem poderia ser adotada como hino informal da igualdade no nosso país. É sempre com emoção que a ouço, especialmente na voz bonita de Marisa Monte:

"O Brasil não é só/ verde, anil e amarelo/ o Brasil também é/ cor de rosa e carvão".

Pois esse país de todas as cores tem um grande desafio neste momento em que sua população sai dividida de uma disputa eleitoral marcada pela agressividade e pelos cancelamentos de amizades. Na verdade, temos muitos desafios pela frente, mas o primeiro deles certamente se chama pacificação.

Claro, é preciso dar tempo para os derrotados lamberem suas feridas e para os vitoriosos entenderem que não há clima para revanchismos. E observar que pelo menos uma precondição para a paz já está posta: agora todos podemos usar a mesma bandeira para torcer pela Seleção na Copa do Catar, sem que o verde-amarelo seja interpretado como posicionamento partidário ou ideológico.

Pelo que tenho ouvido e lido desde a noite de domingo, as principais autoridades e lideranças políticas do país, incluído aí o presidente recém-eleito, também estão propensas a fortalecer a convivência democrática. Não deixa de ser um alívio, depois de tudo o que alguns deles protagonizaram nos debates eleitorais. Mas a verdade é que o retorno à normalidade não depende apenas dos governantes. Cada brasileiro precisa fazer a sua parte neste armistício pelo país.

Ninguém precisa se humilhar nem renunciar à sua visão de mundo. Basta exercitar a compreensão, a tolerância e o diálogo com aquele amigo que se afastou repentinamente, com aquele vizinho incômodo ou com aquele parente que disse o que não devia na reunião da família ou na mensagem do zap.

Podemos, sim, conviver civilizadamente com quem pensa diferente de nós. Podemos, sim, aceitar que nossos familiares e amigos vistam cores que não combinam conosco, sem que por isso passem a ser vistos como inimigos. O Brasil, como ensinou Carlinhos Brown, não é só verde, anil e amarelo. Tem outras cores que devem ser reconhecidas e respeitadas.

Mas as cores lindas da nossa bandeira também podem representar a paz e a igualdade.

NÍLSON SOUZA

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