sábado, 21 de janeiro de 2023


21 DE JANEIRO DE 2023
FLÁVIO TAVARES

RELEMBRANDO 1964

Os atos de vandalismo de 8 de janeiro em Brasília buscaram criar o caos para propiciar uma "intervenção militar", ou seja, um golpe de Estado pondo fim à democracia. Intuitivamente, relembramos o golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura de 21 anos, e daí surgem semelhanças e diferenças.

Comecemos pelas diferenças: em 1964, o golpe foi produto da Guerra Fria, instigado diretamente pelo governo dos Estados Unidos, como se comprova com a documentação do meu livro 1964 - O Golpe. Agora, o governo Biden foi o primeiro a pronunciar-se contra as intenções do vandalismo de 8 de janeiro.

Como um todo, o Brasil era mais atrasado em pensamento. As desigualdades sociais eram tidas como "invenção comunista", ainda que milhões de nordestinos famintos rumassem ao Sudeste em busca de emprego. A reforma agrária e outras, propostas por João Goulart, assustavam tanto quanto o alerta de Brizola sobre as "perdas internacionais" e o imperialismo financeiro ianque.

O espírito da Guerra Fria dominava o mundo e se sobrepunha aos problemas e às soluções. Hoje, as mudanças climáticas são a grande ameaça e nenhum governo se atreve a negá-las.

Por que, então, o vandalismo em Brasília nos preocupa e faz relembrar 1964? Será porque os baderneiros tiveram cobertura militar ao acamparem junto ao QG do Exército em Brasília? Ou porque concentrar milhares de pessoas numa passeata (que redundou em terrorismo) recorda os desfiles da "Marcha com Deus, pela liberdade e a família" pedindo o golpe em 1964?

A diferença é que as "marchadeiras" de 1964 desfilavam em paz, berrando, mas sem o vandalismo que, agora, marcou a insânia terrorista.

A distinção fundamental com 1964, porém, é a posição dos meios de comunicação que rejeitam o golpe e mostram o terror dos baderneiros. Em 1964, o jornal carioca Correio da Manhã chegou a dar a senha do golpe num editorial de primeira página.

O terror do vandalismo de 8 de janeiro em Brasília atuou como vacina ao pretendido golpe de Estado, que em 2023 repetiria 1964.

A morte de Carlos Fehlberg privou o jornalismo e a informação de um dos melhores nomes no país. Nem mesmo a passagem de Fehlberg como secretário de Imprensa do governo ditatorial do general Médici manchou sua biografia e conduta.

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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