segunda-feira, 30 de janeiro de 2023


José Lins do Rego narra sua infância

Jaime Cimenti
José Lins do Rego nasceu em Pilar, Paraíba, em 1901 e faleceu no Rio de Janeiro em 1957. Escritor, contista, cronista, tradutor e jornalista, ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1956 e já com o grande livro de estreia Menino de Engenho (1932) passou a marcar grande e inconfundível presença na literatura brasileira do século XX.
Meus verdes anos (Global Editora,222 páginas, R$ 59,00), publicado em 1956, traz um de nossos maiores autores rememorando percepções pessoais e episódios de infância vivenciados, num gesto sincero de compartilhamento das descobertas, das conquistas e dos dramas que tingiram de forma definitiva sua existência.
Quando um grande escritor opta por registrar os principais momentos de sua vida, o leitor pode ter a sorte de captar pistas que, ainda que incompletas ou mesmo nubladas, o auxiliarão a decifrar os meandros formativos de seus enredos. O depoimento memorialístico de José Lins, acima de tudo auspicioso e sensível, aponta que o Nordeste dos engenhos da cana-de-açúcar e do sertão, marcado pelas agruras da seca e pelo cangaço que ele tão magistralmente ficcionalizou em seus romances, foi visto e sentido por ele com intensidade durante os anos da infância e da primeira mocidade.
Meus verdes anos é um livro que ensejará ao leitor a chance de vislumbrar Zé Lins recuperando e dimensionando o peso que algumas experiências vividas ao longo de sua vida exerceram sobre a concepção de seus escritos. Destaca-se, como exemplo, os registros de infância repleta de descobertas passado no engenho Corredor, propriedade de seu avô, quando viveu sob os cuidados de sua tia. Foi época marcante na qual ouvia com toda a atenção do mundo as histórias contadas pelas negras sobre o passado então recente da escravidão. O contato próximo com cangaceiros serviu para belas narrativas ficcionais.
Ao lado de seus romances e crônicas, estas memórias mostram como se consolidou um de nossos maiores autores, desde a infância. 

Lançamentos

Contra o Gelo (Almedina Brasil, 260 páginas, R$ 79,00), de 1955, inédito no Brasil, traz memórias do explorador Ejnar Mikkelsen sobre uma missão realizada ao nordeste da Groelândia em 1909. A história de sobrevivência e de vinte e oito meses de provações no Ártico deu origem ao filme lançado pela Netflix, disponível no Brasil.
Uma canção de amor e ódio (Editora Nacional, 288 páginas) é o novo livro de Vinicius Grossos, um dos maiores autores de jovens adultos do Brasil. O livro traz uma comédia romântica envolvendo Benjamin e Theodoro, dois cantores rivais do mundo pop. A obra traz cenas quentes, depois um fracasso no festival Pop In Rio.
Café com Deus Pai (Editora Vida, 424 páginas, R$ 89,90), do pastor Junior Rostirolla propõe 365 dias para renovar a vida. Com mais de 150 mil cópias vendidas, a obra traz páginas datadas de 1º de janeiro a 31 de dezembro, com reflexões, textos bíblicos e inspirações para contar com Deus para viver mais e melhor. 

Penso, logo reflito

Nesses tempos loucamente hipercinéticos, de velocidade supersônica, com aviões voando a quase 4 mil quilômetros por hora e naves espaciais a quase 600 mil quilômetros por hora, falar em pensar mais devagar, repensar, refletir e não ter pressa de ficar opinando toda hora sobre tudo, todo o tempo, parece algo totalmente anacrônico. Não é bem assim. É bom lembrar que o tempo se vinga das coisas feitas sem a colaboração dele e que a pressa continua a ser a maior inimiga da perfeição, e também da refeição.
Aliás, geralmente uma boa refeição e outras tantas coisas boas da vida precisam de passos, velocidades e tempos corretos. Até os poderosos algoritmos que nos dominam digitalmente tem lá seus passo-a-passo e não são completamente apressados como parece. Até eles.
Num belo artigo-ensaio sobre comportamento intitulado O poder da reflexão, a competente jornalista Duda Monteiro de Barros, na Veja de 25 de janeiro, mostra estudos comprovando que as melhores escolhas são feitas por quem tem dúvidas e demora a decidir, ao contrário do que sugerem os tempos atuais, com opinião sobre tudo e falando antes de pensar. Pesquisa publicada na revista alemã Science Direct, de autoria da psicóloga Jana-Maria Hohnsbehn, da Universidade de Colônia, mostra que pessoas mais hesitantes, em comparação aos que sempre têm uma resposta na ponta da língua, são mais imparciais, flexíveis nas ideias e fazem escolhas melhores.
Recomendo vivamente, a leitura da matéria de Duda, que vem em momento mais do que adequado. Estamos vivendo anos estupidamente escalafobéticos, está na hora de dar um tempo e de nos darmos um templo budista. Templo às vezes é dinheiro, geralmente tempo budista não é.
Pausa para meditação, tempo para avaliar melhor as coisas e as pessoas, contar até 250 antes de sair lascando nas redes, viver bem vigiando a própria racionalidade e seguir os ensinamentos de Sócrates (470 a.C - 399 a.C) vale a pena. Sócrates falava na importância do autoconhecimento, de refletir para viver uma vida que valesse a pena e de ser menos assertivo e imediatista.
Nessa era de milhões de fake news estonteantes que por vezes parecem a melhor versão da mentira ou da verdade, e nesse momento de informações instantâneas em nível mundial, é decididamente uma ótima ideia dar uma desacelerada. Mesmo essas nossas cabecinhas pós-modernas, tão pretensiosas e arrogantes, não tem maquinismo psíquico capaz de processar, pensar e voar tão rápido, em meio aos oceanos de palavras, sons, imagens, palpites e "dados científicos" que andam por aí.
Especialmente na internet, há tempo se sabe o que os impulsos demasiadamente impulsivos podem fazer. Andamos todos rápidos demais. Está na hora de acalmar e refletir. O apressado come cru e quente, já decretou a sabedoria popular, que precisa ser mais prestigiada. A pressa e a atitude impensada rendem processinhos judiciais e fortes dores de cabeça. Calma é bom, a gente gosta, fortalece as famílias, protege as amizades e diminui o consumo de calmantes. Não dou os nomes para não fazer propaganda e me incomodar. 

A propósito...

Então é isso. Se você é a favor do governo, se é contra, se é mais ou menos contra, se gostaria de uma terceira via ou se é anarquista romântico incurável, pense bem, reflita bem antes de sair falando, gritando e escrevendo. Te cuida. Cautela e caldo de galinha sempre fizeram bem. Não deixe de se manifestar, de algum modo, mesmo silencioso, como, aliás, mais ou menos um terço do eleitorado brasileiro que há décadas não vai votar, vota em branco ou anula o voto. Pense, logo reflita. Temos dois ouvidos e uma boca, diz o ditado oriental. Ah, como disse o Pfeifer, liberdade é o direito de escolher a própria cadeia. E disse a Clarice Lispector: a liberdade ofende.

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