sexta-feira, 9 de agosto de 2024


09 de Agosto de 2024
RELAÇÕES ESTREMECIDAS

RELAÇÕES ESTREMECIDAS

Lula reage a Ortega e expulsa embaixadora da Nicarágua no Brasil. O governo Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matu. O Itamaraty se valeu do princípio da reciprocidade depois de a ditadura de Daniel Ortega ordenar que o embaixador brasileiro Breno Souza da Costa deixasse o país.

A expulsão da embaixadora da Nicarágua foi anunciada após reunião entre Lula e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Fulvia apresentou suas credenciais ao Itamaraty no fim de maio e não chegou a ser recebida pelo presidente.

A ordem de Ortega para expulsar o embaixador brasileiro foi retaliação pela ausência de Costa na celebração dos 45 anos da Revolução Sandinista. Ao ser notificado sobre a queixa, o governo brasileiro chegou a pedir à Nicarágua que ponderasse, mas ficou sem resposta.

O gesto de expulsar embaixadores, algo grave em linguagem diplomática, marca o distanciamento entre Lula e Ortega. O brasileiro tem com o ditador relação de longa data, tensionada pela perseguição a líderes católicos na Nicarágua.

Lula disse há pouco mais de duas semanas que Ortega não atende às ligações desde que ele se propôs a interceder pela liberação do bispo Rolando Álvarez a pedido do papa Francisco. O religioso foi condenado a 16 anos de prisão após se recusar a deixar o país e cumpre pena em regime domiciliar.

Crises em paralelo

O acirramento da tensão com a Nicarágua ocorre no momento em que o Brasil tenta se posicionar como mediador diante de outro regime autoritário de esquerda, o de Nicolás Maduro, na Venezuela. E as crises têm relação entre si.

É preciso analisar essa situação muito em paralelo com o que está acontecendo na Venezuela - afirma Daniel Buarque, jornalista, doutor em Relações Internacionais e editor-executivo do portal Interesse Nacional.

O rompimento das relações da Nicarágua com o Brasil e a tensão após reeleição de Maduro sob suspeita de fraude evidenciam a radicalização desses regimes - o que representa desafio, mas também oportunidade ao governo:

- É uma oportunidade para o governo Lula adotar postura menos leniente do que estava tendo com esses governos autoritários de esquerda. Oportunidade para demonstrar que vai defender a democracia e não vai ficar aceitando governos autoritários apenas por questões ideológicas.

Ao mesmo tempo, ele pondera que as relações com esses países são importantes para o Brasil se posicionar como líder na América Latina, como almeja Lula.

Ontem, a eleição na Venezuela foi um dos temas debatidos na segunda reunião ministerial do governo federal em 2024, no Palácio do Planalto. O encontro com os 39 ministros teve como objetivo organizar a atuação de sua equipe nas eleições municipais e cobrar o andamento de projetos. Em discurso inicial do encontro, Lula disse que busca "encontrar uma situação pacífica para a questão da Venezuela".

Em nova nota conjunta publicada ontem, ministros das Relações Exteriores de Brasil, Colômbia e México voltaram a cobrar atas eleitorais da Venezuela. _

Relações estremecidas

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